A noite cobria o céu, no celular mensagens chegavam, Carlos
olhava para elas como se adorasse um deus, seus olhos brilhavam, no rádio
tocava uma música antiga, ele no banco de trás apenas se deliciava com a
nostalgia, ela trazia um passado cheio de risadas, cheio de paz, mas o presente
teimava ansiosamente em abalar as estruturas, os cabelos ao vento, o sorriso daquela
morena, tudo fazia com que Carlos sorrisse por dentro.
Acelerava, o asfalto parecia um tapete, nele o carro andava
cada vez mais rápido, Diogo dirigia como se estivesse indo a um casamento,
conversas soltas, ele olhava para o banco ao lado e conversava com Leandro,
conversava sobre coisas fúteis, banalidades, sua gargalhada vibrava o volante,
o carro dançava na noite, eles tinha pressa, Carlos tinha o coração cheio de
angustia, ele iria terminar com sua mulher e finalmente iria cair nos braços de
Andreia, sua amante, sua amada, sua deusa nas horas vagas.
Carlos cita um filósofo, os seus colegas riem e perguntam
quem é esse autor, Carlos diz ser Sartre, ele fala do SER E O NADA, filosofa
sobre a consciência, como o mundo que conhecemos não é o mundo “em si”, mas sim
consciência de um mundo que dialogo com nosso ser. Enquanto a música muda,
Diogo pensa como é chato esse tal de Carlos, Leandro mastiga o chiclete já
amargo em sua boca, ele não estava prestando atenção na fala sobre o filósofo,
para ele havia coisas mais importantes naquela noite para serem feitas.
Uma curva, uma casa parece brotar no meio do mato, o carro
para no acostamento, os homens dessem sem pressa, Carlos com seus amores e
culpas, Diogo com sua cara de cafajeste e Leandro com sua misteriosa ideia na
cabeça. Eles caminham, Carlos vai à frente, eles tinham combinado algo, era uma
investigação, os três agentes da policia civil prontos para mais uma investigação,
desvendamento. Um tiro, um rasgar no meio da noite, o barulho percorre a mata,
Carlos cai como um pacote frágil, o sangue sai pelo seu corpo como se fosse uma
peneira, o verde da vegetação chapiscado de vermelho brilhava a luz da lua.
Diogo e Leandro voltam no carro pela noite, no som do automóvel
toca a música preferida de Carlos, a mesma música que ele ouvia quando chorava
angustiado pelas madrugas, quando se martirizava por trair sua esposa. Diogo e
Leandro mastigam agora um chiclete doce, estão aliviados, pois o policial que
iria dedurar o esquema no qual os dois estavam envolvidos já não é mais
problema.
A noite encobre um corpo na mata, grilos cantam,
o sereno desce suave sobre o corpo frio do policial, Carlos não precisa mais se
separar de sua esposa. Longe dali o carro corre pela estrada, ao som de Nilson
e com gosto de chiclete Diogo e Leandro sentem uma certa dor por terem matado
Carlos, a noite encobria todos os crimes, todas as almas, a noite encobria a
angustia, o amor, a música suavizava a viagem de volta, o carro corria como se
estivesse correndo de um funeral