segunda-feira, 9 de julho de 2012

CHARUTO, VINHO E ALGUMA COISA CHAMADA VIDA


Acendo o charuto, bebo mais gole de vinho, lá em baixo existem pessoas sofrendo, aqui em cima existe um copo, álcool, muita fumaça e eu pensando na desgraça alheia. Moonlight Sonata tocando, a música vibra em meus ouvidos, o mundo se aperta em meu espírito, lágrimas escondidas descem em minha alma, é o choro de crianças com fome, eu bebo mais um gole e me imagino em Atlanta pegando fogo, é a cena de ...E Vento Levou, o vento leva todas as esperanças, todas as amarguras e deixa apenas o tempo, aquele vento sem frio ou calor.

Victor Hugo, páginas de revolução, miseráveis com coração, bebo enquanto a fumaça sai dançando pela sala, as leituras do romantismo são tão sanguinárias e violentas quanto uma bomba de Hiroshima ou Nagasaki, o belo desperdício de emoção nessas palavras são absorvidas sem perdão pelos olhos de leitores desavisados, ninguém disse que leriam as páginas de um rico burguês sem classe, de um homem sem felicidade, de um ser solto no mundo que vê a pobreza enquanto lê seus livros da sacada, ninguém disse que a música era uma desculpa para abafar os gritos, além do meu jardim existem outros seres humanos, espero que não existam perto de mim.

Poderia citar Marx, Weber, Cervantes, mas vou citar versos de pessoas não importantes, deselegantes, quero a voz da loucura ao invés da loucura da razão, quero a civilização cheia de sangue beijando os sanguinários selvagens, cavalos que correm nas nuvens, saladas temperadas com saudade, quero a vida dos miseráveis, daqueles que passam fome, lutam pela sobrevivência, quero sentir o gosto de lutar, quero sentir o cheiro de algo imundo, quero abraçar o mundo, quero viver fora do aquário. Bebo mais um gole de vinho, a fumaça não deixa enganar, sinto medo de tudo que não vivi, sinto medo da humanidade, queria estar lá em baixo, queria descer até o inferno para sentir o paraíso de verdade.

Vou pular, no abismo, da sacada, vou deixar meu corpo se espatifar enquanto pessoas comum riem do rico esnobe apodrecendo sobre seus pés, quero que eles riem de mim, de minha filosofia sem prática, de minhas ideias políticas reacionárias, quero que eles saibam que por trás de todas a minha barba, fumaça, vinho, dinheiro, cultura e falta de sacanagem existem um homem, um cara, alguém de carne, osso, sonhos e um pouco de maldade, além da blasfêmia, da outra verdade. Pulei...

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