segunda-feira, 18 de abril de 2011

ONDE OS FRACOS NÃO CHORAM


Tiros, gritos, horror, medo, sangue escorrendo em memórias aflitas, ao vivo, morto, dilacerados pelo terror, vejo a manchete, vejo dúvida, vejo o nada. Lágrimas escorrem, lacrimogêneas águas pelos olhos dos telespectadores, a dor de ver crianças inocentes terem suas vidas ceifadas por um homem aparentemente sem motivos. Monstro, assim ele é chamado pelas pessoas, elas ficam chocadas com a barbárie, eu não fico, isso também choca as pessoas.
A violência tomou conta dos noticiários, da anormalidade, o cotidiano é cheio de gritos, dor e sangue, há um espetáculo da violência, a sociedade vive essa onda de caos. Mas a violência não é uma invenção nova, não é fruto do capitalismo, do comunismo ou da pós-modernidade, ela sempre existiu com a sociedade, com a cultura, com a desgraça. Não vejo motivo para me chocar com a violência, nesse ponto sou como um vegetariano em churrasco, um estranho no ninho, um ser humano longe da humanidade.
Um circo, uma arena, gladiadores, leões, escravos, tudo montado para a diversão, para o êxtase, não é Roma, é a mídia e sua violência gratuita, não posso me horrorizar com todas as notícias fantásticas ou desgraçadas, não posso chorar toda vez que uma criança morre de forma brutal ou desnecessária. Isso não quer dizer que não sinto nada, tenho meus sentimentos, meus princípios, mas não tenho essa obsessão masoquista por sofrimento diário e com pessoas que não estão em contato direto comigo ou que tenha algum laço de amizade comigo. Não tenho um apego com a abstração fantasmagórica chamada humanidade, me apego, choro e amo pessoas concretas e que fazem parte de minha vida. Quanto a humanidade só me resta ter um  sentimento de identidade que mais parece uma razão objetivada do que algo cordial.
Uma sinfonia, uma retirada estratégica, ruas cheias, pessoas caminhando freneticamente, ouço vozes, ouço os comentários, elas lamentam, fazem comentários, xingam o psicopata do atentado de Realengo. Nada mais chocante do que morte de crianças, ainda mais em uma escola. As ruas cheias, o caminhar sem sentido, conversas não proibidas, bebidas para a alma, tudo vai e volta e acaba caindo no tabuleiro do atentado. Lágrimas, raivas, todos parecem estarem em um estado de choque, fúnebre, luto coletivo e nacional, entendo essas pessoas, elas são o que são, “sentir” é algo apaixonante. Uma sinfonia de vozes, uma música triste, não choro pela dor do cotidiano.
Em um mundo onde os fracos não têm vez só resta o choro e a pena coletiva pelas atrocidades cometidas por loucos ou vítimas transformadas em lobos. No meu mundo os fracos se tornam fortes e engolem o choro, não por serem desumanas, mas por serem sobreviventes de um mundo violento.

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