quarta-feira, 20 de abril de 2011

...E SEM PERDÃO

Ouvindo uma banda que marcou momentos de insônia, desgraças e pirraças. Abandono, fui abandonado por Deus, pela sociedade e por mim mesmo em uma estrada sem acostamento. Olho, vejo aquelas criaturas mais infelizes, mais bobas, grotescas, indecentes, elas são felizes, sorriem para o espelho imaginário em sua frente. A solidão é engraçada, a banda me lembra nostalgicamente da época de desilusões, as pessoas felizes e com sorrisos falsos me lembram que tenho que parar de lembrar e sonhar, tenho apenas que parar e andar novamente.
A música tem um tom alternativo, a música soa brega, soa um som silencioso, a noite cai, me lembro dos roucos, agudos e desafinados pedidos de desculpas, eu já havia me esquecido. Seu vestido rosa, seus cabelos negros, sua cara de alcoólatra, sua expressão de ressaca moral, choro entupido por vergonhas alheias, ela caminha pelos meus pensamentos, ela não faz parte da época de desgraças, ela não fez parte da trilha sonora romântico e brega, ela fez parte de sonhos, de pesadelos, de vidas estupradas por poesias sujas. Ela faz agora o que ninguém mais tem coragem, ela bebe  nos beijos sem amor sua felicidade.
Vanessa não chora, ela chorou de mais, ela não sorri, apenas faz cara de cômico desdém, ironia fina como pétalas de uma flor, cheiro estonteante de uma planta em chamas. Lembro-me que já chorei, hoje transo com seios, nádegas, bocas carnudas, não vejo corações, deslumbramentos, Vanessa vai no mesmo caminho, ela não beijou as lápides, não comeu o barro de Adão, ela apenas levantou um dia  e olhou para a chuva e disse para si mesma que não iria mais se sujeitar. Eu bebi a lama que escorria junto às fezes, junto ao esgoto humano de palavras sem perdão, foi após dias de escuridão que liguei minha iluminada e indiscreta raiva e cuspi todo o meu orgulho no rosto da multidão.
Um samba, uma nota de uma música que fala de amor, não choro mais, aquele vestido, aquele corpo cheio de calor, cheio de alguma coisa que não decifrei ainda, ela não me causou a náusea, a lástima, não tirou de mim o que não tenho mais, ela apenas existiu e passou perto de meus olhos, Vanessa nunca disse uma palavra, nunca me olhou diretamente nos olhos, apenas passou em minha frente.
Eu poderia defecar, expressar, exalar, metralhar com ferozes e mortíferas palavras todo o meu rancor, mas não tenho, não tenho paixão, tenho indiferença, tenho tesão, mas ela não tem nem isso, ela e seu vestido., ela passeia seu corpo por mãos, por bocas, ela chupa a inoxidável alegria, ela se esfrega em corpos calientes, ela não engana, não dissimula, é o que é, sem maquiagem. Vanessa não participou de meu passado, ela apenas passou em frente ao meu contemplativo olhar. Admiro quem abandona as frustrações por conta própria, quem mergulha no mundo sem ingenuidade e sem pedir perdão.

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