segunda-feira, 28 de março de 2011

A Hermenêutica de Gadamer, um esboço.


Interpretar um texto não é simplesmente ler o que está escrito, a tarefa é um pouco mais complexa, não estamos falando apenas de entender um enunciado, estamos falando de compreender, mas aqui compreender não se restringe apenas ao texto, ele expande sua lógica pela existência humana com suas angustias e expectativas no tempo, é a partir da “pré-sença”, ou do ser-aí que Gadamer irá colocar sua hermenêutica de fundo “Heideggeriana”.
O primeiro passo é nos colocarmos com a coisa ela mesma, temos que dialogar com o texto, mergulhar na tradição na qual ele pertence, temos que entender o texto por ele mesmo, para depois relacionarmos ele com o seu autor e com as condicionantes sócio-econômicas e históricas. Partimos para isso dos pré-conceitos, de conceitos que já trazemos conosco, com isso teremos um projeto inicial que irá sendo reformulado a medida que passamos a compreender o texto e vamos formulando novos projetos de entendimento:
Quem quiser compreender um texto deverá sempre realizar um projeto. Ele projeta de antemão um sentido do todo, tão logo se mostre um primeiro sentido no texto. Esse primeiro sentido somente se mostra porque lemos o texto já sempre com certas expectativas, na perspectiva de um determinado sentido. A compreensão daquilo que está no texto consiste na elaboração desse projeto prévio, que sofre uma constante revisão á medida que aprofunda e amplia o sentido do texto. (GADAMER,2002, p: 75).
Com esses conceitos que temos com o pertencimento a uma tradição damos o primeiro passo na construção de um projeto de compreensão do texto, mas isso não que dizer que temos que “sufocar” a fala do texto com nossas expectativas, pelo contrário, temos que estarmos abertos e receptivos ao que o texto nos fala e somente depois fundirmos os horizontes do leitor e do texto. Aqui não há também uma neutralidade frente ao que está no enunciado, mas sim um diálogo entre nossos projetos prévio e nosso entendimento e o que nos fala o texto para depois ser construído uma compreensão do todo.
Compreender um enunciado é compreender a pergunta que gerou esse enunciado, “todo enunciado tem seu horizonte de sentido no fato de ter surgido de uma situação de pergunta” (GADAMER, 2002, P:67), ou seja, todo enunciado é resposta a uma pergunta, entender isso é mais um passo rumo ao entendimento do texto, interpretar um enunciado é também desvendar o que está implícito no texto, ver suas perguntas e também o que não foi dito. Esse desvendar é um descobrir, desocultar, é tornar algo verdadeiro. A verdade é desocultação. (GADAMER, 2002, P:60).
Com base na filosofia fenomenológica de Heidegger Gadamer tem como base a pre-sença (Daisen), o ser humano e sua existência, sua historicidade, compreender não é apenas um ato de interpretar um texto, mas também de dar sentido a essa existência temporal, as expectativas desse ser, compreender é também ser. A hermenêutica parte da historicidade, da existência humana, é o ser temporal a medida da interpretação com sua existência e pertencimento a uma tradição, tradição essa que tem um caráter de autoridade, de saber que sobrevive a destruição do tempo. O fato dessa tradição ter caráter de autoridade não a faz uma verdade absoluta, temos que ter um olhar crítico sobre ela, sem negar suas “verdades”.
O texto é interpretado nessa perspectiva hermenêutica tendo com “metodologia” o círculo da compreensão, nele as partes determinam o todo, assim como, o todo determina as partes em um círculo de compreensão das partes e do todo rumo a uma compreensão do enunciado:
A antecipação de sentido, que comporta o todo, ganha uma compreensão explícita através do fato de as partes, determinadas pelo todo, determinarem por seu lado esse mesmo todo. (GADAMER, 2002, P:72).
Nesse caso as partes tem que concordarem com o todo, caso contrário não há êxito na compreensão.
Com essa pequena e superficial explanação deixamos claro o caráter de compreensibilidade da hermenêutica de Gadamer e sua relação com a historicidade e a existência do ser humano ( Daisen). Esse texto tem como objetivo explicitar a importância da hermenêutica na interpretação textual, a importância do “diálogo” com a obra, o entendimento tanto da pergunta quanto da resposta expressa em seu enunciado.

                                       BIBLIOGRAFIA

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método II: complementos e índice. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

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