segunda-feira, 12 de julho de 2010

POLÍCIA, PROFISSIONALISMO E "NEUTRALIDADE"

Só quem já foi ao inferno pode drescrever com maestria e verdade o que é o calor que penetra na alma e não deixa saudade, mergulhar nos pensamentos de pessoas sofredoras, angustiadas e desgraçadas é beijar a serpente venenosa de nossos desejos, medos e arrependimentos. Aqueles que passeiam pelas sarjetas da sociedade compreendem melhor a marginalidade, homicidas, traficantes, assaltantes, viciados e todos os desalmados páreas da sociedade, trabalhar na área de segurança pública é abraçar com devoção e sem preconceito a parte podre do corpo social. Sangue, gritos, risos irônicos, violência doméstica, tráfico de drogas, estupro, tudo é digerido pelos corações e mentes dos policiais.
Sentir prazer em trabalhar com o marginal, grotesco e desavergonhado grupo de bandidos, viciados e pobres sem causa parece excentricidade, mas é algo que vai além do mero prazer com o esquisito, tem haver com justiça, ética, romantismo barato, sobrevivência e trabalho digno. Mergulhar no lixo da comunidade, nos seres humanos bestializados, maltratados, passar pelos cafajestes, malandros e maldosos, e parar nas vítimas do acaso, tudo isso é um passeio pelo campo policial.
O policial tenta não levar para o lado pessoal, ele é um profissional, porém não é uma máquina e as veses acaba se sensibilizando ou questionando certos atos como é o caso das mulhres que sofrem violência doméstica, apanham de seus parceiros, sofrem ameças, sentem na pele a estupideza humana. Assassinos são mostrados como monstros, mas muitas veses são pessoas comuns e sem um passado criminoso que cometem esse tipo de crime, a paixão, o calor da emoção nos levam muitas veses a cometer atos bárbaros, isso não os justificam, porém nos tras a compreenção de tais atos.
Muitas das brigas entre casais é por causa de ciumes,a insegurança trás consigo a dúvida angustiante sobre a fidelidade do outro e nesse contexto o machismo, a ignorância levam muitos homens a violência, assassinatos e situações desumanas. Tratar disso com objetividade não é fácil, requer muito equilíbrio e profissionalismo.
Mergulhar na desgraça da sociedade, penetrar no antro da pedofilia, estupro, roubo e drogas é enfiar a cara na fétida espuma que cobre o lago social de nossa formação humanitária, ser profissional no campo policial é ser como Atlas carregando o mundo nas costas.

3 comentários:

  1. Meu amigo Clodoaldo.
    Gostei do seu texto. Por ele dá para perceber a difícil missão de trabalhar na segurança pública. Balizar sentimentos, emoções, pensamentos e motivos... Ô quê fazer né? Difícil!
    Abraços.
    Daniel Segatti/

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  2. Caro Clodoaldo, no fiel retrato do cotidiano policial descrito em seu texto, senti, nas suas entrelinhas, um forte desejo de retorno à egrégia Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher! Será verdade? =] Um abraço!

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  3. Prezado Dr. Vinícios, na verdade eu explorei mais o caso da mulher por motivos emotivos, pois é mais fácil convencer as pessoas com apelo emocional do que com teorias acadêmicas ou discursos engajados, mas estarei sempre a disposição para trabalhos nessa especialidade.

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