terça-feira, 8 de junho de 2010

PARA QUE VIVER?

Caminho pela cozinha, como ferozmente pela madrugada, bebo suco, água e saudade, sou devorado pela solidão fria da noite, pela amargura do silêncio noturno, encantado com a falta de sono sou seduzido pelo computador, atraído pela música instrumental que paira no ar, pelo conteúdo supérfluo que leio na tela preguiçosamente. A insônia contagia e toma conta de todo o meu ser, lembranças loucas e surreais brotam na selva de minha mente, uma memória efervescente borbulha imagens distorcidas de um passado recente, romanticamente sinto tristeza por lembrar, amar, sofrer e viver, a existência é mesmo um fardo muito pesado.
Olho para o relógio, as horas não passam, o sono não chega, a felicidade é estar respirando desejo, duvidar é o caminho que vejo nessa madrugada vazia. Reflexões exdrúxulas são colocadas conscientemente pela minha razão, sonhos imaginários, cenários mal pintados tomam conta da cena refletida no aquário de minhas idéias, não conseguir dormir me leva a  isso.
Continuo acordado, a música triste perdura no meu ouvido já cansado, eu me pergunto por que continuar, para que viver? Se já sabermos que o personagem vai morrer no final parece que perde a graça, mas sabemos que morreremos no final e mesmo assim continuamos, a vida não passa de um caminho para a morte. Dentro de uma perspectiva judaico-cristã a vida não passa de uma passagem para a "verdadeira" vida após a morte, nossa existência é finita e cheia de dor e desgraça, com pitadas de amor e esperança, mas a vida após a morte é eterna, agradável e "iluminada", se é assim para que viver, podíamos ir direto para esse paraíso espiritual, ou suicidarmos e passarmos logo para o verdadeiro mundo, o belo, correto, justo e anjelical. Já dentro de uma perspectiva ateia a vida é só essa mesma, a finita, mundana e "pecaminosa", ela também tem um fim, mas o fim, ou seja, a morte, não leva a vida eterna, mas sim ao fim da existência. Se a vida é passageira e no final sem sentido, já que  perderemos tudo que construimos em vida e nos tornaremos 'nada", para que viver?
Não há sentido na vida, ela é paenas um acaso com um fim, ou uma passagem para outra vida,mas isso não a torna desenecessária, a torna intensa, odisséia intergalática, a nossa existência é aproveitada nos momentos, sabemos que deixaremos de existir, porém em quanto existimos aproveitamos ao máximo esse momento de amor, dor, dúvida, angustia, prazer, paixão, felicidade e temor, somos engolidos pela mágica de respirar, pelo encanto de sonhar, viver é mesmo uma arte. Apesar do sofrimento há um misto de espanto e felicidade no existir que é esse caminhar por essa vida com suas contradições, perplexidades, dúvidas, belezas e encantos.

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