Olho
pela janela, motos, carros, até um fusca vermelho e barulhento
passa, o tempo passa, fluido, calmo lá em baixo, violento na alma,
fluxo contínuo e inexorável! O meu ser é o que ainda não foi,
dúvida constante, mudança fleumática, permanência sem palavras,
inaudita permanência de dúvidas.
Duvido
que seja apenas cortes leves, me parece carnificina, o tempo passa,
mas o conservadorismo e as velhas práticas continuam; travestidos,
novas roupagens, o corte na carne é sanguinolento, feridas abertas
não cicatrizam tão rápido como passa o tempo.
Não
há poesia na desgraça? Infortúnios, dores, paisagens lúgubres,
melancolia sem rima, eis a poesia trágica e ácida que sai das
páginas políticas; cortes no orçamento, saúde, educação, ação
de meliantes em andamento, mas salvam comparsas, presidentes,
economias.
Em
nome da economia cortamos orgasmos, futuros, bolsas; apenas desgostos
adoçam esse café frio nesses dias gélidos. Corações em brasa
queimam e a flama entra em contato com a neve que sai dos céus
cinzas, tristes e burocráticos, eis a política partidária que
inflama o peito e continua a caminhar comendo a carne que sai das
urnas eleitorais.
Vote
e alimente um monstro, carnívoro e intransigente, que adora o gosto
salgado de mamíferos e inteligentes. A fogueira está acesa, o frio
permanece como a corrupção que evapora pelos poros e se desfaz em
discursos inocentes; não há prisões para quem rouba alimento de
crianças ou futuros de jovens delinquentes, apenas negritudes
esfomeadas e enlouquecidas pagam o preço em celas imundas e dias sem
sol poente.
Lute
e quebre as algemas de gelo que lhe prendem ao monstro partidário,
estatal e sem vergonha, inescrupuloso representante de seus próprios
interesses, que cospe confeites verbais e lhe tira o suor da labuta
diária, tudo em nome do povo, essa fantasmagoria que só serve para
subterfúgios esfarrapados que encobrem ideologias parasitárias.
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