Toques
suaves de guitarra, vibrações no ar, enquanto a música progressiva me lembra
filmes de ficção-científica, vejo futuros distópicos como os dos livros, filmes
e demais artes de imaginação científica. Arranha céus, chuvas ácidas, máquinas
dominando, seres orgânicos dominados, noites românticas, noir, mistérios no ar armazenando sonhos desfeitos, predestinações
não satisfeitas, desertos nas mentes onde a água transbordou para as bordas do
abismo sem telos, sem nexo, sem odor,
amor ou gozo.
A
música silenciou, o constrangimento chegou, juntamente uma massa seca e amorfa
dominou todo o continente, são os ares que saem das narinas do dragão, desse monstro
caquético, jurássico e quase imortal; Estado, eis o nome do deus que não se
pronuncia sem temer suas garras, o fogo de suas entranhas. Estamos todos em
suas garras, as unhas já penetram na carne, o fogo já derrete tudo que não é útil
a manutenção da máquina, as PEC’s, as reformas, todas as artimanhas desse
tinhoso demônio nos levam para o inferno terreno.
Saímos
da crise institucional do governo petista, crise política, econômica e “moral”,
no lugar veio a crise política, institucional e econômica do governo PMDB que
se aliou aos liberais democratas, ruralistas e alguns fascistas, para manter o
controle do capital, dos grandes proprietários de terras, especuladores,
instruais, banqueiros, políticos e todos aqueles que se beneficiam do sistema
excludente, da sociedade de mercado e do liberalismo que libera o lucro, mas
censura a distribuição de renda. Esse governo é herdeiro de desmando de todos
os governos republicanos; dívidas, desmandos, ingerências, corrupção,
autoritarismo, e tudo isso foi feito, pelo menos na nova república pós
ditadura, com participação do PMDB.
A
conta de tudo isso descrito acima é cara, mas quem paga? Paga quem é mais
fraco, quem é pobre e depende do SUS, quem é miserável e depende da escola
pública, saúde e escola essas que serão prejudicadas com cortes, assim como
salários de funcionários públicos. Mas isso ainda é pouco, temos agora a bola
da vez, a reforma previdenciária, previdente que tira o sono da gente e arranca
os dentes de quem já era banguela. A reforma que na verdade é um estupro
institucional patrocinado pela direita que quer fazer com que trabalhadores
trabalham mais e ganhem menos, se aposentem mais tarde e com um rendimento
menor. Assim como os remadores da Odisseia Homérica estamos com ouvidos tapados
com ceras, apenas remamos, trabalhamos, mas em o prazer e sem sentido, apenas
Odisseus está seguro amarrado com as cordas do poder e com os ouvidos livres
pode gozar ao som afrodisíaco das sereias. Remamos para a morte, uma velhice
sem direitos, enquanto o estado se safa, tampa os buracos feitos pelos ratos
que dilapidaram nossas finanças, previdência e paciência.
O
que é mais importante salvar o Estado ou a dignidade de velhos trabalhadores
carcomidos pelos anos, pela labuta e com sangue jorrando pelos cofres de
grandes empresas, bancos e fazendas?
Se
o estado está “quebrado” não somos nós que iremos remenda-lo sangrando a classe
mais desfavorecida; se a previdência tem um rombo não iremos tampá-lo arrombando
as portas da esperança e dilacerando a aposentadoria de pessoas já todas esfaceladas.
O
ser humano não pode ser um valor monetário para ser desvalorizado pelo Estado,
não pode ser uma ferramenta para ser usada ao bel prazer de quem tem o comando
financeiro e político, o ser humano deve ser um fim em si mesmo e não um fim
para desejos escusos de político e empresários.
“No
reino dos fins tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um
preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma
coisa está acima de todo preço, e, portanto, não permite equivalente, então tem
ela dignidade”. (KANT)
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