Paralelepípedos
ideológicos na estrada incerta rumo ao abismo sem fim da indignação, passando
pela trepidação das pedras com pneus cheios de esperança vemos sacolejar dentro
do monstro mecânico os sonhos orgânicos de pessoas que não ousam mais sonhar,
apenas falam, falam e cospem palavras ácidas, efervescentes e cheias de saudade
nas redes sociais. Palavras de ordem, palavras contra a balburdia institucional,
palavras nacionalistas; porém, palavras sem a base popular, sem apego a mudança
mais radical; são palavras de pessoas que são contra a corrupção, contra os
abusos do atual, e antigo governo, mas que são conservadoras, que querem manter
o mundo como ele.
As pessoas
reclamam dos partidos, reclamam dos políticos, saem às ruas vestidas de verde e
amarelo; cobram justiça, ética, honestidade. A indignação dessas pessoas é
compreensiva, e justificada; como não se indignar com a corrupção,
autoritarismo, com reformas que retiram investimentos básicos em educação,
saúde e previdência? Entretanto, manifestar contra partidos e políticos
mantendo as regras do jogo, mantendo a alienação e dispersão dos cidadãos em
relação às decisões políticos pode mudar alguma coisa?
A carcomida e geriátrica
democracia burguesa representativa não representa os interesses da maioria,
como ela diz representar; ela, na verdade, é apenas uma máscara que encobre os
reais interesses por trás de sua manutenção, por trás das rédeas dessa carroça
burocrática chamada Estado. Nunca foi interesse de comerciantes, industriais,
intelectuais orgânicos, banqueiros e/ou outros membros das classes dominantes
que pessoas despossuídas de capital, propriedade e status assumissem a
responsabilidade de suas vidas e pudessem participar “democraticamente” das
decisões políticas; com isso criam essa ficção medonha de representação, onde
você dá uma procuração a uma pessoa poder participar das decisões legislativas
e do comando administrativo da vida das pessoas.
Apenas
manifestar contra partidos e políticos não mudará a nossa situação, enquanto
não formos participativos, enquanto não houver uma democracia direta seremos
sempre o que chamam vulgarmente de “massa de manobra”, quando querem que se
manifeste contra X nos chama, contra Y, nos chamam, quando tudo está bem , a
economia desliza sem muitos solavanco, ficam calados, e como todos estão
felizes, consumindo e vivendo bestializados pelas luzes das mídias, ficamos
todos em silêncio constrangedor, a dominação e exploração não são sentidas.
Ou se muda os quadros, e a mecânica, de
funcionamento político ou seremos sempre joguete nas mãos de quem dirige a
economia, o Estado e as manifestações. Temos que ser contra a corrupção, contra
os desmandos, porém, temos que lutar para destituir quem controla isso e passarmos
sermos os donos de nosso destino. Uma democracia onde o povo não decide, não
administra e não opina não é uma “democracia”, é uma ficção, uma ilusão que se
dá em meio ao deserto político, nas areias escaldantes da ingenuidade que é a
base da dominação e abre as portas para a exploração.
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