segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

2016, FICÇÃO-CIENTÍFICA OU APENAS TEMOR SEM CIÊNCIA?



O sol ofusca as vistas do viajante, um sol forte e ao mesmo tempo envelhecido, velho como as pessoas que habitam a ilha na qual o viajante acaba de chegar. O calor infernal aquece as alegrias, mas entristece “cancerigenamente” a epiderme, essa capa protetora dessas almas sem espírito, dessas carcaças de seres quase humano, quase orgânicos, quase alguma coisa, coisificados pelo tempo, pelo sistema, pelo sol que derrete qualquer sorvete e sonhos.
A noite chega romântica e violenta violentando toda e qualquer ingenuidade; noir, eis a palavra que descreve essa atmosfera sem névoa, sem charme, mas com alguma coisa no ar flutuando sob as luzes futuristas, entre olhares desconfiados. Pessoas trafegam sob pingos da chuva ácida, é ácido o olhar do traficante da droga sintética; o viajante olha tudo isso e não vê nada além de velhos, o que foi feito da juventude? Indagações são armas antigas da mente, e mente não mente, há algo de podre no reino caquético da Dinamarca.
Garotas de programa, todas com idade acima dos sessenta, o que há de sexual na pele sulcada pelo tempo, na flacidez, na voz cansada? Carros flutuantes enchem os céus negros e chuvosos da cidade cheia de lixo, pobreza, drogas, sexo e “velhos”. Um bar, uma bebida, gelada, desce suave, um garoto, no máximo vinte anos, surpresa! O viajante, de nome Richard, pergunta o nome do jovem, esse responde: Luiz.
A conversa é suave como é suave a lâmina que corta as cabeças na guilhotina; perguntas, dúvidas, Richard quer saber o que leva uma civilização a ser tão anciã, Luiz responde que ali é um reduto dos não aposentados, de uma geração que teve negado o direito de se aposentar, devem trabalhar até os últimos dias de sua vida, por isso habitam a ilha, somente lá podem ter dignidade vivendo entre seus pares, seus iguais.
Richard fica assustado, o que teria levado a uma geração inteira a ficar assim, onde estariam os jovens então? Luiz diz, com sua voz forte e irônica que estão no continente, restabeleceram a ordem, mesmo na desordem caótica do universo, mas não conseguiram incluir os velhos já escravizados por uma lei antiga ditada por um político que governava antes das transformações das guerras dos sertões. Essas guerras varreram o país e muitos foram mortos, os mais jovens tomam o poder dos antigos monopolistas, os jovens adeptos das antigas práticas são deportados, os anciões já calejados pelos anos de trabalhos forçados não querem viver na nova república, preferem se exilar longe dos políticos, banqueiros e demais exploradores, vão para a Ilha, para o lugar onde os velhos dominam.
        O viajante vai ao continente, encontro um país como outros, não é um paraíso, mas nele a população se autogovernam, não depende de empresários, políticos e burocracia, tem alguns poucos velhos. Richard ao conversar com as pessoas sobre sua história e sobre a Ilha ouve um nome, um nome que resume toda uma geração e os fazem ficar temerosos devido ao pavor do que é dito: Temer!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

O Estado de Temer e velhice temerária



Toques suaves de guitarra, vibrações no ar, enquanto a música progressiva me lembra filmes de ficção-científica, vejo futuros distópicos como os dos livros, filmes e demais artes de imaginação científica. Arranha céus, chuvas ácidas, máquinas dominando, seres orgânicos dominados, noites românticas, noir, mistérios no ar armazenando sonhos desfeitos, predestinações não satisfeitas, desertos nas mentes onde a água transbordou para as bordas do abismo sem telos, sem nexo, sem odor, amor ou gozo.
A música silenciou, o constrangimento chegou, juntamente uma massa seca e amorfa dominou todo o continente, são os ares que saem das narinas do dragão, desse monstro caquético, jurássico e quase imortal; Estado, eis o nome do deus que não se pronuncia sem temer suas garras, o fogo de suas entranhas. Estamos todos em suas garras, as unhas já penetram na carne, o fogo já derrete tudo que não é útil a manutenção da máquina, as PEC’s, as reformas, todas as artimanhas desse tinhoso demônio nos levam para o inferno terreno.
Saímos da crise institucional do governo petista, crise política, econômica e “moral”, no lugar veio a crise política, institucional e econômica do governo PMDB que se aliou aos liberais democratas, ruralistas e alguns fascistas, para manter o controle do capital, dos grandes proprietários de terras, especuladores, instruais, banqueiros, políticos e todos aqueles que se beneficiam do sistema excludente, da sociedade de mercado e do liberalismo que libera o lucro, mas censura a distribuição de renda. Esse governo é herdeiro de desmando de todos os governos republicanos; dívidas, desmandos, ingerências, corrupção, autoritarismo, e tudo isso foi feito, pelo menos na nova república pós ditadura, com participação do PMDB.
A conta de tudo isso descrito acima é cara, mas quem paga? Paga quem é mais fraco, quem é pobre e depende do SUS, quem é miserável e depende da escola pública, saúde e escola essas que serão prejudicadas com cortes, assim como salários de funcionários públicos. Mas isso ainda é pouco, temos agora a bola da vez, a reforma previdenciária, previdente que tira o sono da gente e arranca os dentes de quem já era banguela. A reforma que na verdade é um estupro institucional patrocinado pela direita que quer fazer com que trabalhadores trabalham mais e ganhem menos, se aposentem mais tarde e com um rendimento menor. Assim como os remadores da Odisseia Homérica estamos com ouvidos tapados com ceras, apenas remamos, trabalhamos, mas em o prazer e sem sentido, apenas Odisseus está seguro amarrado com as cordas do poder e com os ouvidos livres pode gozar ao som afrodisíaco das sereias. Remamos para a morte, uma velhice sem direitos, enquanto o estado se safa, tampa os buracos feitos pelos ratos que dilapidaram nossas finanças, previdência e paciência.
O que é mais importante salvar o Estado ou a dignidade de velhos trabalhadores carcomidos pelos anos, pela labuta e com sangue jorrando pelos cofres de grandes empresas, bancos e fazendas?
Se o estado está “quebrado” não somos nós que iremos remenda-lo sangrando a classe mais desfavorecida; se a previdência tem um rombo não iremos tampá-lo arrombando as portas da esperança e dilacerando a aposentadoria de pessoas já todas esfaceladas.
O ser humano não pode ser um valor monetário para ser desvalorizado pelo Estado, não pode ser uma ferramenta para ser usada ao bel prazer de quem tem o comando financeiro e político, o ser humano deve ser um fim em si mesmo e não um fim para desejos escusos de político e empresários.
“No reino dos fins tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo preço, e, portanto, não permite equivalente, então tem ela dignidade”. (KANT)

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

MANIFESTAR SIM, MAS PARA MUDAR E NÃO PARA A MANUTENÇÃO DO MUNDO COMO ELE É.



Paralelepípedos ideológicos na estrada incerta rumo ao abismo sem fim da indignação, passando pela trepidação das pedras com pneus cheios de esperança vemos sacolejar dentro do monstro mecânico os sonhos orgânicos de pessoas que não ousam mais sonhar, apenas falam, falam e cospem palavras ácidas, efervescentes e cheias de saudade nas redes sociais. Palavras de ordem, palavras contra a balburdia institucional, palavras nacionalistas; porém, palavras sem a base popular, sem apego a mudança mais radical; são palavras de pessoas que são contra a corrupção, contra os abusos do atual, e antigo governo, mas que são conservadoras, que querem manter o mundo como ele.
As pessoas reclamam dos partidos, reclamam dos políticos, saem às ruas vestidas de verde e amarelo; cobram justiça, ética, honestidade. A indignação dessas pessoas é compreensiva, e justificada; como não se indignar com a corrupção, autoritarismo, com reformas que retiram investimentos básicos em educação, saúde e previdência? Entretanto, manifestar contra partidos e políticos mantendo as regras do jogo, mantendo a alienação e dispersão dos cidadãos em relação às decisões políticos pode mudar alguma coisa?
A carcomida e geriátrica democracia burguesa representativa não representa os interesses da maioria, como ela diz representar; ela, na verdade, é apenas uma máscara que encobre os reais interesses por trás de sua manutenção, por trás das rédeas dessa carroça burocrática chamada Estado. Nunca foi interesse de comerciantes, industriais, intelectuais orgânicos, banqueiros e/ou outros membros das classes dominantes que pessoas despossuídas de capital, propriedade e status assumissem a responsabilidade de suas vidas e pudessem participar “democraticamente” das decisões políticas; com isso criam essa ficção medonha de representação, onde você dá uma procuração a uma pessoa poder participar das decisões legislativas e do comando administrativo da vida das pessoas.
Apenas manifestar contra partidos e políticos não mudará a nossa situação, enquanto não formos participativos, enquanto não houver uma democracia direta seremos sempre o que chamam vulgarmente de “massa de manobra”, quando querem que se manifeste contra X nos chama, contra Y, nos chamam, quando tudo está bem , a economia desliza sem muitos solavanco, ficam calados, e como todos estão felizes, consumindo e vivendo bestializados pelas luzes das mídias, ficamos todos em silêncio constrangedor, a dominação e exploração não são sentidas.
Ou se muda os quadros, e a mecânica, de funcionamento político ou seremos sempre joguete nas mãos de quem dirige a economia, o Estado e as manifestações. Temos que ser contra a corrupção, contra os desmandos, porém, temos que lutar para destituir quem controla isso e passarmos sermos os donos de nosso destino. Uma democracia onde o povo não decide, não administra e não opina não é uma “democracia”, é uma ficção, uma ilusão que se dá em meio ao deserto político, nas areias escaldantes da ingenuidade que é a base da dominação e abre as portas para a exploração.