O sol há de brilhar mais uma vez, a luz há de chegar aos corações...Letra de música, samba melancólico com
fundo de esperança, mas esperar sem lutar é frustrar e chorar no final quando
os caracteres subirem pela tela preta, pela sala escura soluços vão pairar no
ar, um cinema de horror irá chocar os olhos virgens de sangue, um terror irá amedrontar
quem nunca passou pelo abismo antes. Na letra ainda temos “é o juízo final”, me
lembra algo bíblico, mas não é a luta do bem e do mal, mas a luta de interesses
constitucionais, trabalhistas, sociais e coletivos contra interesses
burocráticos, da classe burguesa industrial, bancária e política; estamos
falando da votação da PEC241 que foi aprovada ontem, em primeira votação ontem,
no dia que o eclipse da razão começou a fazer sombra sobre nós.
A emenda constitucional tem um escopo
interessante, pragmaticamente falando, ela quer limitar os gastos do Estado; o discurso
diz que o poder público federal, e os estaduais, estão mergulhados em um lamaçal de dívidas e os gastos aumentaram
muito, por isso, devemos diminuir os gastos para salvar o Estado e pagar as
dívidas desse. Vamos lá, a finalidade me parece razoável, mas a PEC propõe
meios insalubres e indigestos, tem a intenção de cortar gastos da saúde,
educação, congelamento dos salários e reajustes do funcionalismo público, tudo
isso dentro do pacote de engessamento dos gastos pelos próximos vinte (20)
anos; o pacote ainda inclui outras medidas extra PEC, mas não vamos ampliar demais
o assunto.
No capítulo anterior, já que isso
aqui mais parece uma novela do Agnaldo Silva, vimos que há meios indecentes de se cortarem os gastos do
governo, eu diria até criminosos, pois além de imorais, ante sociais, são
inconstitucionais também; o direito à saúde e educação pública estão sendo
jogadas na latrina neoliberal, os gastos do funcionalismo e assistência social
estão mergulhadas no mesmo mar fétido de detritos expelidos pelas cloacas
burocráticas do liberalismo que prega o enxugamento do Estado, diminuição dos
gastos público em nome de uma dívida não auditada.
Os fins justificam os meios caro
príncipe Temer? A razão instrumental, utilitarista e pragmática obnubila a
razão axiológica, os valores humanos, os fins financeiros do Estado acabam
dessa forma justificando o massacre social, a doença do sistema, a falta de
educação de nossa população, a degradação da arete. Não há mais virtude e nem cidadania, apenas eleitores e
contribuintes, não somos mais fins em si mesmos, somos meios utilizados desgraçadamente
pelo poder público por uma emenda constitucional que não foi debatida, foi
empurrada goela abaixo nos organismos.
O Estado usa subterfúgios para
retirar direitos, cidadania e o futuro das pessoas, ele poderia muito bem taxar
grandes fortunas, diminuir gastos supérfluos com publicidade, jantares de
galas, comissionados e obras faraônicas como aeroporto com fins turísticos, mas
que vive vazio. Porém prefere cortar na
carne e jogar a alma fora. A razão mercantilista, capitalista, burguesa e
instrumental que nega a humanidade enquanto fim, que transforma pessoas em
meios, suportes, em coisas, objetos animalizados, essa razão está por trás do
irracionalismo que será justificado pelo legalismo da PEC 241; mas lemos
Antígona de Sófocles, e sabemos que há leis injustas e justiças que transcendem
o legal. A luta não pode parar, pois o tempo...O tempo não para.