A
aurora da máquina, o crepúsculo da humanidade, uma caminhada enérgica, uma
revolução sem armas, fumaça, chaminés, riqueza, carvão, sangue, esperma em
forma de cifrão, dinheiro e orgasmo, labuta e dor. A revolução industrial trouxe
um novo revestimento ao capitalismo que passou de sua fase embrionária e
comercial ao capitalismo industrial se tornando um SISTEMA onde o protagonismo,
o alicerce e alma da sociedade passou a ser o capital com sua classe burguesa. Antes
do capitalismo havia dinheiro, havia o poder do dinheiro, agora há o sol em
forma de cifrão, tudo gira em torno dele, e o que era poder agora transcende o
natural e naturaliza o artificial, tudo é pelo dinheiro, ganha-se dinheiro para
fazer mais dinheiro, faz arte para dar lucro, faz sexo para lucrar; já o pobre,
o marginal e esfomeado trabalha para comer, respirar, reproduzir e, claro, dar
mais dinheiro ao patrão, seja ele industrial, banqueiro, fazendeiro,
comerciante ou o Estado!
Em
1936 estreava TEMPOS MODERNOS, o primeiro filme sonoro de Chaplin, nele ouvimos
pela primeira vez a voz do ator, diretor e compositor, mesmo que apenas alguns
minutos durante uma música. No filme temos o eterno vagabundo, personagem que
se confunde com o próprio Chaplin, trabalhando em uma fábrica; o que notamos
logo de início é seu caráter mecanizado, o trabalhador se aliena e se reifica
tornando-se algo como uma engrenagem a mais da máquina, mais um objeto. De
tanto fazer apenas a mesma função mecanizada, robotizada e desumanizada em um ritmo
frenético o protagonista entra em colapso nervoso e é internado, começa a
odisseia do nosso herói vagabundo.
O
filme é uma dança da fome, da exploração e da entrada e saída de Chaplin de
prisões e desempregos, empregos e trapalhadas, saindo da internação ele é
confundido com manifestante grevista e é preso, solto acaba conhecendo uma jovem
órfã que teve as irmãs levadas pelo serviço social, a mesma por passar fome
rouba um pão, na fuga se esbarra com o personagem de Chaplin, começa ai uma amizade
que logo se torna um romance, com direito a música melodramática que embala
tanto o amor, a melancolia quanto a dor da fome e da exploração do sistema.
Com
cenas históricas, como a de Chaplin apertando parafusos e depois sair fazendo o
mesmo gesto freneticamente no ar, passando pela cena do vagabundo sendo
engolido pela máquina, vemos uma comédia corporal onde Chaplin mesmo se
rendendo aos sons e dando fala alguns personagens ainda faz o estilo “mímico”.
Podemos ainda destacar que a agilidade do filme não está em edições rápidas,
mas na construção orquestrada e coreografada das cenas com muita ação cheias de
beleza, leveza e sempre com um fundo de contestação social.
Com
música composta pelo próprio Chaplin o filme mostra uma crítica melodramática e
cômica aos “tempos modernos” com sua mecanização, retificação -coisificação- e
alienação do ser humano, que se torna apenas mais um dente da engrenagem do
sistema, apenas mais uma peça da fábrica que pode ser dispensada, perseguida e
presa sempre que necessário, ou quando a pessoa se torna desnecessária.
Destaque para o final com a música embalando a caminhada dos personagens
apaixonados, tristes, mas cheios de esperanças por uma estrada ensolarada,
cheia de vida e vazia de dinheiro.
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