domingo, 19 de junho de 2016

TEMPOS MODERNOS DE CHAPLIN



A aurora da máquina, o crepúsculo da humanidade, uma caminhada enérgica, uma revolução sem armas, fumaça, chaminés, riqueza, carvão, sangue, esperma em forma de cifrão, dinheiro e orgasmo, labuta e dor. A revolução industrial trouxe um novo revestimento ao capitalismo que passou de sua fase embrionária e comercial ao capitalismo industrial se tornando um SISTEMA onde o protagonismo, o alicerce e alma da sociedade passou a ser o capital com sua classe burguesa. Antes do capitalismo havia dinheiro, havia o poder do dinheiro, agora há o sol em forma de cifrão, tudo gira em torno dele, e o que era poder agora transcende o natural e naturaliza o artificial, tudo é pelo dinheiro, ganha-se dinheiro para fazer mais dinheiro, faz arte para dar lucro, faz sexo para lucrar; já o pobre, o marginal e esfomeado trabalha para comer, respirar, reproduzir e, claro, dar mais dinheiro ao patrão, seja ele industrial, banqueiro, fazendeiro, comerciante ou o Estado!
Em 1936 estreava TEMPOS MODERNOS, o primeiro filme sonoro de Chaplin, nele ouvimos pela primeira vez a voz do ator, diretor e compositor, mesmo que apenas alguns minutos durante uma música. No filme temos o eterno vagabundo, personagem que se confunde com o próprio Chaplin, trabalhando em uma fábrica; o que notamos logo de início é seu caráter mecanizado, o trabalhador se aliena e se reifica tornando-se algo como uma engrenagem a mais da máquina, mais um objeto. De tanto fazer apenas a mesma função mecanizada, robotizada e desumanizada em um ritmo frenético o protagonista entra em colapso nervoso e é internado, começa a odisseia do nosso herói vagabundo.
O filme é uma dança da fome, da exploração e da entrada e saída de Chaplin de prisões e desempregos, empregos e trapalhadas, saindo da internação ele é confundido com manifestante grevista e é preso, solto acaba conhecendo uma jovem órfã que teve as irmãs levadas pelo serviço social, a mesma por passar fome rouba um pão, na fuga se esbarra com o personagem de Chaplin, começa ai uma amizade que logo se torna um romance, com direito a música melodramática que embala tanto o amor, a melancolia quanto a dor da fome e da exploração do sistema.
Com cenas históricas, como a de Chaplin apertando parafusos e depois sair fazendo o mesmo gesto freneticamente no ar, passando pela cena do vagabundo sendo engolido pela máquina, vemos uma comédia corporal onde Chaplin mesmo se rendendo aos sons e dando fala alguns personagens ainda faz o estilo “mímico”. Podemos ainda destacar que a agilidade do filme não está em edições rápidas, mas na construção orquestrada e coreografada das cenas com muita ação cheias de beleza, leveza e sempre com um fundo de contestação social.

Com música composta pelo próprio Chaplin o filme mostra uma crítica melodramática e cômica aos “tempos modernos” com sua mecanização, retificação -coisificação- e alienação do ser humano, que se torna apenas mais um dente da engrenagem do sistema, apenas mais uma peça da fábrica que pode ser dispensada, perseguida e presa sempre que necessário, ou quando a pessoa se torna desnecessária. Destaque para o final com a música embalando a caminhada dos personagens apaixonados, tristes, mas cheios de esperanças por uma estrada ensolarada, cheia de vida e vazia de dinheiro.  

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