Falar
sobre o dia internacional das mulheres nos condiciona a tecer elogios
eloquentes, a poetizar com lirismo cintilante, efervescente, somos jogados no
turbilhão de léxicos emotivos, construções contundentes que enfatizam a luta épica
das sensíveis moradoras de nossa terrena bolha azul, mas é difícil apenas
deslumbrar o leitor com pomposas construções literárias ou melodramáticas narrativas
sem mencionar “dissertativamente” os ocasos e acasos, os eclipses que obstaculizam
uma maior liberdade e igualdade entre os sexos.
Todo
dia é dia de mulher, mulheres, mas nem todo dia é dia de comemorar, de
refletir, de colocar em pauta a questão do gênero, de elogiar, as datas tem
essa função, colocar em pauta o que nos dias rotineiros são esquecidos. Falar em
dia das mulheres é falar das recentes declarações de atrizes americanas sobre a
desigualdade entre elas e os atores do sexo masculinos (em pleno 2015!), é
falar das notícias de jornais que ainda colocam as mulheres ganhando cerca de
27% a menos que os homens, mesmo tendo nível de escolaridade mais alta e já
dividindo ao meio o mercado de trabalho, falar nessa data é colocar
explicitamente o implícito preconceito, a discriminação sub-reptícia que assola
corações e mentes, o machismo não é uma palavra sobre seres primitivos, resquícios
arqueológicos, mas sobre homens que ainda resistem com sua mentalidade forjada
historicamente nos longínquos sítios de formação de nossas sociedades de
classes, masculinas, guerreiras e dominadas pelas elites com propriedades
privadas. Mas e a poesia?
A
nossa sociedade pós guerra mundial abriu mais portas para as mulheres no ocidente do que em épocas
anteriores, a saída das mulheres para trabalharem nas fábricas durante a
guerra, o acesso ao ensino universitário, mudanças de mentalidade e novas
formas tomadas pelo capitalismo, movimentos de “minorias” como gays, negros e o
feminismo, contribuíram no século XX e início do XXI para uma maior e melhor
participação feminina na sociedade de mercado, o mundo pós moderno tende a ser
menos fechado para as mulheres com suas leis como a brasileira “Maria da Penha”
que garante juridicamente uma pequena segurança aliada as delegacias de
especializadas de atendimento a mulher, uma mentalidade menos tradicional e provinciana nos grandes
centros urbanos também colaboram para uma cultura menos machista, porém tudo
isso ainda é pouco, são ganhos parciais, a poesia ainda é muito melancólica.
Apesar
de todos os problemas ainda podemos comemorar os pequenos, mas significativos
ganhos pelas e para as mulheres, podemos ousadamente também banharmos em
palavras calorosas, em soberbas e magnificentes elogios ao sexo forte e meigo
ao mesmo tempo, com suas vitórias estrondosas que ainda precisam ser mais
grandiosas, com sua artilharia mortífera com elegância e estilo, ainda há espaço
para a poesia, mesmo tendo que jogar no ventilador todo material putrefato das
latrinas de nossa sociedade machista. Feliz dias das mulheres e que isso não
seja subterfúgio para estacionarem na vida e verem a morte chegar
preguiçosamente.