Bolinhas de sabão, elas sobem
desavergonhadamente pelos ares, se chocam com árvores, passeiam pela luz solar como
se dançassem balé, as bolinhas de sabão brincam com a maturidade idosa,
debocham da seriedade ruidosa de crianças já cansadas da vida, bolinhas de
sabão são bolhas de alegria em dias cinzas, são contagiantes em dias ensolarados,
são apenas bolinhas que sobem e estouram no ar, bolinhas de sabão são
passageiras, são rápidas existências com brilho forte de estrela e existência
curta de um segundo.
Ando pelo parque, a grama se
estende pelos meus pés como um tapete verde, a fome me faz devorar com os olhos
pipocas, a sede de vida me faz salivar, sento em um banco estrategicamente,
vejo crianças correndo, brincando, vejo pessoas lendo, casais namorando, vejo
um flerte indecente entre os raios solares e minha pele branca, o câncer pode
estar se alastrando pelos meus poros, minhas ideias podem estar grávidas de
espanto, deslizo minhas reflexões por um continente cheio de dúvidas e desaguo
minha ansiedade num mar quieto de incertezas.
A claustrofobia aperta meu
coração, o mundo é um campo de concentração onde concentro meus dias respirando
ordinariamente, suspirando poeticamente, corro em pensamento por campinas,
naves estalares, converso esquizofrenicamente com deus e ele responde com
silêncio, o mesmo que reina em casais sem diálogos. O parque está cheio, está
cheio de cores, angustias, está cheio de pessoas com preguiça, minha consciência
se enche disso tudo, tudo passa ser consciência de parque, mas quando minha introspecção
se volta para minha própria consciência algo é nadificado, o ser e o nada
percorrem essas linhas e a náusea sartreana toma conta de mim, fico ofegante
olhando para tudo em minha volta e dou conta de minha existência, desespero, minha
mão tem vida própria, meus dedos se mechem como se fossem cobras. A árvore faz
sombra, eu estou debaixo dela, suas raízes brotam sexualmente da terra, no
banco do outro lado do lago há uma mulher solitária, ela me fita de longe, há
algo de excitante nisso.
Abro um livro, o cortiço, aquelas pessoas animalizadas,
os odores, a vibração de caos, todo aquele conglomerado cheio de vozes, cheiros
fortes, cores vibrantes, leio o romance naturalista e naturalmente sinto algo a
corroer meu estômago, olho para o outro lado do lago, ela não está mais lá, foi
embora para Pasárgada? Ou foi percorrer as ruas desertas da cidade nesse
domingo entediante? Perguntas é o que tenho para dividir, é o que resta para
exprimir em palavras. Minha imaginação corre como um cavalo de histórias
medievais ou de western, começo a imaginar aquela saia preta colada no corpo da
mulher que estava do outro lado do lago, confundo minhas experiências sexuais
com a minha platônica investida nessa tarde, ela beija meu pescoço e desce sua
língua pelo meu corpo, enfio minha mão pelas suas pernas, sinto o calor que
saia de sua vagina introduzindo meu dedo nela. Olho novamente e não a vejo
mais, o parque está cheio, fecho os olhos e volto a imaginar, agora ela está
engolindo meu pênis, o devora com vontade, olha nos meus olhos enquanto chupa o
fruto excitado, retiro sua calcinha com violência, coloco-a de quatro sobre uma
toalha estendida na grama, começo a penetrá-la coma, movimentos suaves, ela
rebola e pedi mais, tapas vigorosos em suas nádegas e puxões de cabelo, não
aguento mais, começo a penetrar mais forte até retirar de dentro dela meu
membro e jorrar o líquido seminal em seu rosto, abro os olhos, ela não voltou
mais, continuo a ler o romance, um cheiro de pipoca me excita, a fome me
contagia, tenho que comer algo, mas levantar do banco é uma...Levanto.
Ando timidamente por entre
árvores, garotos com espinha, mulheres de vestidos, homens a contemplarem a
beleza feminina, jovens com o futuro preso na garganta, minha pipoca não cheira
tanto, gosto do sabor de sal que tem nela, meus passos lentos sincronizados com
mastigadas lentas, a vida passa tão rápido e eu ando tão lento, se caísse um
meteoro agora e matasse a todos nós nesse parque o mundo continuaria o mesmo,
ele continuará o mesmo depois que nos formos, como mais um pouco de pipoca, de repente
esbarro em uma bolinha de sabão, ela explode em meu rosto, me assusto, crianças
sorriem, na verdade ouço gargalhadas gostosas, paro e contemplo bolas mágicas
subindo, elas têm vida curta, assim como nós, mas brilham intensamente enquanto
sobem dançando no ar com a luz que vem do astro rei. Compro um brinquedo
parecido com daquelas crianças do parque, agora sopro da janela de minha casa e
vejo as bolinhas de sabão deslizarem pelo ar e sumirem, um dia meu brilho
sumirá como a da bolinha e eu deixarei de brilhar, sopro mais uma vez, no
parque parecia ser mais emocionante.
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