quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O TEMPO ROENDO



As ruinas da minha memória sobrevivem pelos tempos que roem a carnes do mundo, que roem os templos da mente, somos devorados pela passar do tempo, pelo passado persistente que passa pela gente e deixa um gosto nu, um cheiro de ruina, de esquina, um cheiro de rua. Escrevo sobre o ruir do mundo, escrevo sobre o pensar o mundo, no mundo invento o mundo, o mundo inventando existe sem minha invenção, eu existo sem a ruina que desmorona em meu coração, eu não vivo sem o mundo, o mundo sem mim existe sem minha vida, sem meu olhar que contempla o passar do tempo que passa persistente e persiste em passar até o fim do mundo que nunca caba antes de começar tudo de novo.
Escrevo dentro dessa esfera decadente, desse mundo que nunca fica doente, mesmo as ruinas indicando sua velhice, sua sandice, seu passar sem pesar, o mundo fica cada dia mais velho, fico a cada dia que passa mais velho dentro do mundo, fora de mim há um mundo velho, dentro de mim a um ser velho, entre eu e o mundo há um passar ligeiro de tempo, um velho roer de roupa, de carne, um rato devorando tudo que existe, as lembranças são trapos que se prendem no corpo de um homem ruindo, que não consegue ser imortal.
Olho para o céu azul, grito para ele, o lobo fala fleumático que o caos reina, o eco de minha voz corre doida pelo azul celeste, o mundo não responde minhas preces, o Deus que se esconde entre plumas de mil megatons também não, estão todos sendo ruídos pela chuva ácida que derrete todos os sonhos, que dilacera todas as almas, que devora todo gozar, masturbações metafísicas.
O carro percorre as ruas na noite, o calor teima em beijar nossos corpos nesse manto noturno, prostitutas a esperar em ruas desertas, bares lotados, viciados a andar, zumbis que amedrontam todo sonhar, paro e compro uma cerveja, a morena de roupa rosa parece sorrir para o homem de rosto sombrio, ouço ela falar algo sobre cinema, ele apenas bebe esquizofrenicamente sua bebida, continuo minha odisseia pelas ruas, como somos ansiosos, queremos viver tudo de uma vez, ficamos ousados e queremos mergulhar rapidamente no mar da vida e nos esquecemos que a água seca rapidamente, logo seremos apenas poeira nas lembranças, ruinas na memórias, seremos apagados, ceifados pela foice do acaso, para que tanta pressa em viver, o mundo está ruindo, a carne está ruindo, somos ruinas ambulante, já envelhecemos no momento que nascemos, para que tanta ânsia?
O rato roeu a roupa do rei de Roma, o abismo chegou de repente, a alma que brinca com a gente, como sonhar em mundo racionalista? Como não pensar em algo além da razão, somos mais emoção que tesão, somos mais emoção que Descartes, somos todos tragados pela fumaça desgraça que desce do alto das montanhas sagradas, corro com meu carro, o velocímetro chega a indicar que estou prestes a voar, para o carro novamente, me lembro de minha infância, presto atenção da música de Milton Nascimento, CAIS, invento um cais...Invento um mundo onde possa morar, o mundo inventa um ser que possa sonhar, a vida é inventada para ser desinventada com a invenção morte, que rói tudo , que destrói toda ruina que sobrevive enquanto lembranças nas ruas, nas bocas, no tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário