domingo, 7 de outubro de 2012

O SACRO SACRIFÍCIO DE AMAR.



Enquanto caminhava pela sala ela olhava para o quadro, a imagem sacra a fazia pensar na origem da vida, no sentido da mesma, ela olhava atentamente para a santidade plasmada em tinta, o cristianismo tinha uma mitologia tão forte, uma ideia tão bela e aquela imagem de cristo pendurada na parede era uma razão mais que significativa para encher os olhos de lágrimas quentes e grávidas de algo sublime. A música tocava no fundo de sua alma, ela continua caminhando pela sala ao som de Bach, como é gostosos ouvir o erudito som do músico enquanto admirava a bela imagem do menino calendário pendurado em uma cruz, o sangue a descer, o vivo corpo a apodrecer, o espírito santo a erguer a fé diante daquela estética sacra, mas como num passe de mágica ela se lembra de algo carnal, de algo profundamente apaixonante, ela se lembra de Wagner, não o da ópera, mas aquele que a fazia suspirar de amor, tesão e calor. A imagem sacra pendurada na parede dá lugar a imagem do corpo nu de Wagner, ela se lembra de seus abraços fortes, de sua boca deslizando sobre seu corpo, de sua língua quente penetrando em seus ouvidos, passando sobre seus seios, os gemidos, os tapas, os puxões de cabelo, a forma como ele a penetrava por trás, o jeito como ela cavalgava em seu membro, suas genitálias ligadas em um êxtase sem fim, o orgasmos líquido dele pingando de sua boca. A música de Bach não combinava com sua nostalgia erótica e nem o quadro, mas ela não resistiu e pensou em Wagner, ela continua a andar pela sala...
Como pode uma pessoa se apaixonar por outra sem conhecê-la, sem ao menos saber de onde veio, assim pensava Mônica quando refletia sobre sua paixão avassaladora por Wagner, um homem que veio não se sabe de onde, não se sabe fazer o que e nem para onde vai, um homem que faz trocadilho com o mistério, que rima com a incógnita, que esbanja charme e faz o coração desenfreado de Mônica virar um carro de fórmula 1! O amor contagia seu corpo, ela se importa com alguém que ela nem sabe ao certo quem é, seus olhos verdes, sua barba, seu jeito fleumático de falar, seu olhar solto no ar, as angustias de uma vida se transforma em anseios de um sentir, ela o deseja, ele sabe o ponto fraco de sua libido, de seu jeito de gozar a vida e sentir o orgasmo sem sentido, ele a faz mulher na cama, a santifica em seu carinho quase romântico, mas ele não lhe entrega tudo, não se abre por inteiro, ele esconde sua verdade, seu lado camuflado de existir.
A chuva caia fina, Wagner com seu rosto sem expressão caminhava com a pistola na mão, a sua frente aquele senhor de cabelos já grisalhos dava passos tímidos, passos fúnebres, pisando na grama molhada os dois marchavam para dentro da mata, aquele final de tarde seria o final de muita coisa e o início de outras. Parados, o homem já sentia o frio daquele momento, Wagner friamente conversava com o ser a sua frente, os dois tinha intimidade, se conheciam de algum lugar, estranho que a lágrima que saia dos olhos do homem não eram de medo ou emoção, eram de  orgulho misturado com decepção, difícil misturar água e óleo, sua mente fazia isso com perfeição, agora de joelhos e sem lágrimas no rosto ele falava com Wagner com uma voz profética, dizia que a vida era um moinho e poderia triturar os sonhos infantis dele, mas sabia que não podia julgá-lo, que não poderia culpá-lo, Wagner com um pingo de humanidade que resistia em seu espírito se despede de seu pai e atira na cabeça do velho sem piedade. O velho que agora deita na grama molhada de chuva e sangue era um antigo pistoleiro do Pará que havia ensinado o seu ofício a seu único filho, Wagner, esse em seu primeiro trabalho tinha como alvo seu velho pai, ele não poupou o mesmo da morte, isso mostra seu profissionalismo.
Mônica olha para o rosto de Wagner, esse continua sem expressão, mas o olhar tem um certo brilho, ele é um cristão praticante, vai todos os finais de semana a igreja, doa dinheiro para caridade, agora assistindo ao filme Paixão de Cristo de mãos dadas eles se veem como um casal exemplar, belos enamorados curtindo um momento de reflexão sobre Deus, ao final do filme conversam coisas triviais do cotidiano, riem de coisas banais e depois fazem amor com uma extrema paixão. Ao amanhecer Wagner vai embora, Mônica toma seu café quente e pensa no amado, ela vai até a sala e olha para o quadro onde Cristo está crucificado, ela pensa no Deus da trindade, faz o sinal da cruz e vai trabalhar.

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