O espelho, seu rosto refletido, sua razão desmascarada, seus
sonhos derretidos, enquanto se masturbava Michel chorava, suas lágrimas também eram
refletidas no espelho, seu esperma caia graciosamente no chão do banheiro, sua
tristeza caia em seu pranto, em seu corpo, em sua alma. O espelho, reflexo, o
rosto, enquanto chorava em frente do espelho João imaginava sua infância pobre,
seu aniversário sem bolo, seus pés descalços, o pai que não conheceu, brinquedos
que não ganhou, era 13 de junho, aniversário de seu filho, ele era lembrando
enquanto olhava no espelho, no espelho Michel olhava seu rosto sem mágoa, sem
vida, era 13 de junho, dia dos namorados, sua solidão o atormentava, a
lembrança dela também, dela, Alicia, o espelho, o reflexo, o bolo, o caos, o
esperma, o sangue, pobreza, turbilhão, tristeza, a música, psicodelia, Pink Floyd, copo e cerveja, angustia,
Michel, João, Deus, o inferno, tudo hoje, nada ontem, o espelho, a sacanagem
cósmica, o amargo 13 de junho, festa.
O azul do céu, brilho, nuvens carregadas de sonho, brancas,
João encara a luz, as trevas penetram escondidas em seu mundo, Michel está
trancado em casa, carrega seu ser em suas notas, sua música, João pega na arma,
olha, a arma brilha, o céu brilha, os olhos de Michel brilham, saudade, o filho
de João ri, seu pai se alegra, o céu, o azul, a saudade de Alicia, o mundo
gira, a noite chega, João, Michel, o mundo todo se encobre de gótico, o luto ,
noite de 13 de junho, noite, sabor, de romance, gosto de mistério, terror em
transe, horror mascarado, marginais sem galáxia.
A rua, a mesma rua, nela Alicia correu com seu belo jeans,
nela João caminha com a arma, com o medo, com a vontade de comprar um bolo para
seu filho, filho, filho da puta aquela motoqueiro, assim pensa Michel, ela
morreu cuspindo sangue, o cuspe de João é seco, o medo, vai ser essa noite,
treze, junho, aniversário, filho, dia, namorados, Alicia, morte, tudo embalado,
tudo rasgado, tiras de vida, os dois penetram na noite, sem sentido.
O calor, a noite, a metamorfose transvestida, desgraçadamente
divertida, os olhos, lágrimas escondidas, será que terá coragem? João. Michel.
Alicia. Pedro, motoqueiro, andando pela rua Michel leva suas lembranças, suas
cativantes, a dor, João vê um alvo, é agora, o bolo, aniversário, medo, Alicia,
sangue: é um assalto, reação, tiro, um corpo, sangue, João corre sem o
dinheiro, Michel cai sem vida.
A rua, 13 de junho, namorados abraçados param de se beijar
para olhar aquele ser sem vida, aquele rosto solitário, Michel parece sorrir,
ele reagiu, sua vida foi ceifada, João chega em casa, seu filho, sorriso, nada
de bolo, o caos, reina, reino de dor, nada pior do que o arrependimento, cruel,
foi cruelmente assassinado, a música toca, a morte baila em cima do corpo
inerte.
O espelho, João olha, sua vida foi jogada fora, lata, lixo,
em algum lugar, sua consciência pega fogo, sua carne treme, seu filho come um
pedaço de pão, é treze, é 13 de junho, sua mulher chega do serviço, um beijo, namorados,
é o dia, naquela manhã Michel se lembrou de alicia vestida com seu rosa
preferido, o rosa foi a cor que ele viu quando seu corpo foi pintado de
vermelho. Enquanto o mundo gira, enquanto escrevo, enquanto o beijo molha,
enquanto João se move como um verme Michel não faz nada, seu corpo estirado no
chão, namorados, solteiros, filhos, putas, pedreiros, todos os homens, gays,
todas as mulheres, todos os olhares, o sangue corria, naquela manhã Alicia era
tão linda, treze, dia de morrer.
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