terça-feira, 13 de março de 2012

BRIVIDO


A música antiga cantada em italiano, brega como uma noite quente, efervescente como a memória, latente como sexo. Espelho, maldito espelho, ele refletia toda a desgraça, toda falta de graça que havia naquele momento, ele olhava, fitava como um caçador sua imagem refletida no espelho, sua barba por fazer, suas orelhas, o pingo de lágrima, água salgada que desce pelos rostos emocionados, melancólicos, pelas almas inundadas de vida, secas de morte.
Caminhar sozinho pelos cômodos fazia com que Leandro recordasse de parte de sua vida, uma parte solta como um quebra-cabeça rodava em sua mente, criava monstros, refazia passagens, a música tocava no fundo, ele bebia um copo de wisk enquanto caminhava ao encontro da solidão.
O ar noturno queimava em seus pulmões, aquela voz baixa parecia brotar das paredes, Leandro podia ouvi-la, senti-la, no banheiro se masturba, o líquido viscoso que saia de sua genitália cai na porcelana branca, seus olhos vermelhos parecem prontos para chorar, ele se masturbou pensando nela,  ele caminha por poeira, espaço escuros, cômodos sem vida, paredes silenciosas, a casa era um baú de saudade, sua vida era uma desgraça ambulante, a desventura cravou uma espada em seu coração.
Luciana, o nome estava escrito com fogo em sua pele, não poderia esquecer, a voz de Luciana reaparecia do nada, seu vestido preferido, passeios no parque, beijos, brigas, aquela casa guardava tudo sem eu ventre, enquanto o corpo de Luciana era devorado pelos vermes em algum cemitério do sul de Goiás Leandro devorava sua saudade molhada com álcool. A música não tocava mais, a canção romântica cantada em italiano sumia com a negritude da noite, Brivido.

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