A barba por fazer não esconde sua tristeza, seu olhar penetra na escuridão da noite, seu silêncio grita funda na alma de quem chega perto. O frio chega sem pedir licença, a carne queima no inferno de seus pensamentos, ele não lamenta, não sente culpa, ele apenas olha para as estrelas e não as acham bonitas, apenas olha, apen
Toca Roy Orbison, a música nostálgica, romântica e chata, ele ouve a música, reflete sobre sua solidão, bebe mais um copo da bebida amarga. Ela chega, seu vestido leve e colorido se mistura ao cinza da paisagem cheia de fumaça, cheia de melancolia, cheia de mais nada, o reflexo de seu ser estampando no olhar daquele homem sem palavras, sem emoção, sem mais nada.
Sua boca molhada, seu corpo quente, seu jeito descomprometido de fazer sexo, a mulher mergulha no prazer dos braços fortes, dos beijos gostosos, ela cai na ternura simples de amar, o homem de poucas palavras e gestos contidos dá o que nenhum outro lhe daria, prazer sem limites, sem vergonha, culpa ou sobrenome. Orgasmos, ela suspira, geme e contorce, ele pensa em como dizer a si mesmo que é o fim, ela sabe seu segredo, não pode mais viver, mas tem um certo carinho, uma atração incontrolável, não pensa mais, age, com um único tico ceifa a vida daquela linda e deslumbrante mulher que tanto lhe deu prazer e paz. Não se arrepende, não tem lágrimas em seus olhos, o batimento cardíaco é o mesmo, frio como gelo, duro como uma rocha, caminha pela manhã de sol tímido, de ruas sujas, caminha por entre pessoas, ele ama a vida, ele amava a mulher da noite passada, amava seu sorriso, sua vagina, sua alegria. Odiava ter que matar, mas matava, matou a ruiva de vestido colorido por ela saber o que não deveria, por falar o proibido, matou sem pestanejar, sem hesitar, apenas fez o trabalho, apenas com um tiro.
Um carrinho de pipoca, crianças em volta, correria, sol batendo em rostos sem magia, sem pecado, sem malícia, enquanto caminha perto dessa febre infantil ele lembra dos gemidos, da cena de amor, dos seios fartos, do esperma escorrendo, do calor, se lembrava que tinha mais um trabalho antes de abandonar a cidade, tinha que matar um banqueiro, coisa simples e rápida, esse era seu serviço, seu ganha pão, sua rotina.
O sangue escorria, o corpo esfriava, olhando no espelho e fazendo a barba imagina o que seria de sua vida se não a tivesse matado. Acende um cigarro, a fumaça faz desenhos no ar, a atmosfera cancerígena é o ambiente de um crime, sexo, sangue e ironia, o amor é trágico, é dolorido, é radiativo.
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