segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Prova do ENEM e o existencialismo do caralho, sem ser macho ou fêmea.






A dor na sola do pé, turbilhão, caminho com o sol a lamber minha epiderme, a escorregar seu barulho pela careca se formando em minha cabeça, passos largos, fortes e determinados, escolho atravessar a rua, escolho ou sou escolhido pela velocidade do automóvel que vem ao meu encontro, não encontro saída, corro com a dor na sola do pé, essa dor que existe e me lembra que existo, existo enquanto dor, enquanto deliberação de correr, enquanto penso, mas penso depois de existir, depois da dor ou penso em tudo isso e logo existo correndo, doendo?...Escrevo.
A frustração profissional dentro do embrulho da crise econômica, da falta de estrutura, contingências da vida, é ser muito egoísta pensar que o mundo gira ao meu redor, mas fora de mim tudo é “em si’, tudo é gratuidade, matéria sem sentido, dou sentido ao mundo ao pensar o mundo, minha consciência, esse nada, esse quase espiritual que dá vida, sentido ao mundo, o mundo é consciência, o mundo é um nada em minha mente e é tudo que não significa nada fora de minha mente, e eu fora do mundo sou uma mente sem necessidade, gratuito como tudo que tem vida, peso e não serve para nada além de estar no mundo, penso sobre isso, logo sou um ser que sabe que sou e que nada sei além disso.
Eu me escolho, o mundo não me escolhe, apenas faz de mim o que quer de forma inconsciente, nasço pobre, branco, filho de pai analfabeto, de mãe sem leitura ouvindo sertanejo, mas me escolho roqueiro, sambista, leitor de Nietzsche, Sartre e Victor Hugo, ou fui escolhido pelos acidentes da vida, me esbarrei em programas de tv que falavam de Shakespeare, vi filmes baseados nos livros de Hugo, conheci objeto e pessoas que gostavam de filmes e liam Marx, Weber e poetas gozadores, me escolhi pelas amizades e fui escolhido sem maldade pelo mundo, o mundo é uma projeção de minha mente que é produto do mundo, idealismo safado, materialismo vagabundo, fenomenologia da algazarra, muito barulho por nada, eis que minha consciência toma tudo isso como subjetivamente, condicionado pela economia, ideologia e sociedade não determinando minhas atitudes, livremente me escolho enquanto produto sem meio.
Abro a tela e vejo a polêmica no mundo virtual, jornais, a prova do ENEM, uma questão sobre feminismo:
     Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino. BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
     Não escolhemos nascer machos e fêmeas, não escolhemos nascer negros, nem mesmo pobres, mas escolhemos ser homens, mulheres, somos livres para isso, não é determinação biológica ou econômica, é projeto livre de ser a partir do que a vida nos foi legada, biologicamente, sociologicamente, somos livres para escolher a partir das determinações e determinar que nossas vidas sigam caminhos que não dominamos, pois, o futuro é como águas entre os dedos. “O essencial é contingência. O que quero dizer é que, por definição, a existência não é necessidade. Existir é simplesmente estar presente...”A Náusea. Não necessitamos ser homem ou mulher, somos livremente projeto e projetamos ser o que queremos ser a partir das necessidades de nascer macho ou fêmea, eu escolho homem heterossexual, isso não faz de mim um padrão necessário, apenas mais uma escolha ambulante que irá viver sem sentido e morrer sem necessidade.



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