O liberalismo com seu espírito iluminista nos
coloca uma dádiva como manjar, como alimento quase espiritual, o respeito a
igualdade perante a lei e a liberdade, como são belas essas ideias libertárias
que colocam ricos, pobres e miseráveis em pé de igualdade frente a justiça
burguesa, porém, quando vamos olhar o respeito as diferenças e a diminuição da
desigualdade sócio econômica vemos que esse paraíso liberal está cheio de
labaredas infernais, dentro desse caldeirão fumegante os direitos humanos são desumanizados e vemos como são feitos de nuvens certas ideias tão defendidas e
aplaudidas nas ribaltas intelectuais e ideológicas.
As
desigualdades sócio econômicas são camufladas em nome de uma igualdade jurídica
e de uma liberdade política, mas como igualar desiguais e como ser livre quando
se está preso na estrutura de exploração do capital? Não vou aqui vomitar
palavras esquerdistas e sonhos utópicos marxistas, mas olhar apenas um lado da
moeda é se esquecer que a vida social é mais complexa do que é pregadas nas
igrejas ideológicas dominantes, sejam elas as mais conservadoras liberais ou
mesmo algumas chamadas de esquerda no mundo acadêmico. O mundo vai além da
bipolaridade capitalismo socialismo.
Falar
em direitos humanos é falar em direitos universais que transcendem fronteiras
de pátrias e nações, o ser humano ser respeitado em qualquer parte do planeta
pelo simples fato de SER HUMANO é algo até hoje subversivo, direitos como
alimentação, habitação, liberdade de expressão, dignidade humana, são coisas
ainda a se lutar, e a labuta nesse sentido não é fácil. Não tem como pensar
democracia sem pensar em cidadania, não tem como pensar cidadania sem direitos
humanos e direitos humanos sem o mínimo de condição sócio econômica fica
inviável, logo, apenas igualdade jurídica e liberdade política não são
suficientes para contemplarmos uma pessoa com seus direitos ditos humanos.
Uma
das primeiras barreiras que encontramos são as próprias cidades onde moram a
maioria das pessoas, pelo menos no Brasil, pois essas são excludentes, varrem
para as periferias sem estrutura, sem água tratada, pavimentação, segurança e
educação o lixo da sociedade, o lixo analfabeto, o lixo negro, o lixo
desempregado, logo acumula nas bordas da cidade um lixão humano sem educação, sem
condição econômica, sem dignidade, nesse lixão cresce a falta de dignidade e a
falta de direitos mínimo e humanos, cresce ai o monstro da violência,
assaltantes, latrocidas, jovens drogados, jovens violentos que brigam em
torcidas organizas, ai cresce o que a sociedade quer combater com a força
punitiva do Estado, a polícia, o antibiótico contra a doença criada pela
desigualdade social.
Não
há democracia sem participação popular, como participar sem tempo para debater,
sem estudo para compreender, sem dignidade para poder se ver como cidadão, como
membro político da polis? A desigualdade e a exploração do trabalho e o
desemprego criam pessoas cansadas pela labuta ordinária e desumana, alienadas
pela falta de conhecimento acadêmico, pela falta de vontade política, os
direitos humanos são esquecidos dentro dos lixões humanos criados pela falta de
respeito e compromisso com o outro. Isso vai além do capitalismo, mas como o
atual sistema que colabora e amplia essa desigualdade é o capitalismo será ele o
sistema nocauteado pelas críticas aqui urdidas nesse texto.
Não
criemos ilusões com sistemas totalitários como os fascismos, nazismos e
comunismos, eles não só não diminuíram as desigualdades e ignorância humana como
ampliaram o Estado Leviatã que engole os
direitos e a humanidade e torna a razão irracional, a modernidade com sua
ciência sem afeto, nossa cultura masculina e machista com seu falocentrismo
também colaboram para a falta de direitos humanos, falta lutarmos por menos
desigualdades e por mais afeto na política, no direito, na sociedade como um
todo.
Não
há como haver direitos iguais quando não se tem respeito a individualidade e
enquanto não se diminua a desigualdade social e econômica, vamos apenas ver
crescer a rosa de Hiroshima, atômica, desumana e irracional, veremos apenas
perpetuar a falta de dignidade de ônibus lotados, pessoas sem educação, sem
comida, veremos o cogumelo atômico de violência engolir os pobres da periferia
e ceifar a classe média e a alta burguesia em seus castelos encantados. Sem direitos humanos, sem dignidade, cidadania e uma democracia forte seremos varridos
para a periferia do humano e apodrecer na latrina da falta de direito.