domingo, 3 de março de 2013

BOLINHAS DE SABÃO



Bolinhas de sabão, elas sobem desavergonhadamente pelos ares, se chocam com árvores, passeiam pela luz solar como se dançassem balé, as bolinhas de sabão brincam com a maturidade idosa, debocham da seriedade ruidosa de crianças já cansadas da vida, bolinhas de sabão são bolhas de alegria em dias cinzas, são contagiantes em dias ensolarados, são apenas bolinhas que sobem e estouram no ar, bolinhas de sabão são passageiras, são rápidas existências com brilho forte de estrela e existência curta de um segundo.
Ando pelo parque, a grama se estende pelos meus pés como um tapete verde, a fome me faz devorar com os olhos pipocas, a sede de vida me faz salivar, sento em um banco estrategicamente, vejo crianças correndo, brincando, vejo pessoas lendo, casais namorando, vejo um flerte indecente entre os raios solares e minha pele branca, o câncer pode estar se alastrando pelos meus poros, minhas ideias podem estar grávidas de espanto, deslizo minhas reflexões por um continente cheio de dúvidas e desaguo minha ansiedade num mar quieto de incertezas.
A claustrofobia aperta meu coração, o mundo é um campo de concentração onde concentro meus dias respirando ordinariamente, suspirando poeticamente, corro em pensamento por campinas, naves estalares, converso esquizofrenicamente com deus e ele responde com silêncio, o mesmo que reina em casais sem diálogos. O parque está cheio, está cheio de cores, angustias, está cheio de pessoas com preguiça, minha consciência se enche disso tudo, tudo passa ser consciência de parque, mas quando minha introspecção se volta para minha própria consciência algo é nadificado, o ser e o nada percorrem essas linhas e a náusea sartreana toma conta de mim, fico ofegante olhando para tudo em minha volta e dou conta de minha existência, desespero, minha mão tem vida própria, meus dedos se mechem como se fossem cobras. A árvore faz sombra, eu estou debaixo dela, suas raízes brotam sexualmente da terra, no banco do outro lado do lago há uma mulher solitária, ela me fita de longe, há algo de excitante nisso.
Abro um livro, o cortiço, aquelas pessoas animalizadas, os odores, a vibração de caos, todo aquele conglomerado cheio de vozes, cheiros fortes, cores vibrantes, leio o romance naturalista e naturalmente sinto algo a corroer meu estômago, olho para o outro lado do lago, ela não está mais lá, foi embora para Pasárgada? Ou foi percorrer as ruas desertas da cidade nesse domingo entediante? Perguntas é o que tenho para dividir, é o que resta para exprimir em palavras. Minha imaginação corre como um cavalo de histórias medievais ou de western, começo a imaginar aquela saia preta colada no corpo da mulher que estava do outro lado do lago, confundo minhas experiências sexuais com a minha platônica investida nessa tarde, ela beija meu pescoço e desce sua língua pelo meu corpo, enfio minha mão pelas suas pernas, sinto o calor que saia de sua vagina introduzindo meu dedo nela. Olho novamente e não a vejo mais, o parque está cheio, fecho os olhos e volto a imaginar, agora ela está engolindo meu pênis, o devora com vontade, olha nos meus olhos enquanto chupa o fruto excitado, retiro sua calcinha com violência, coloco-a de quatro sobre uma toalha estendida na grama, começo a penetrá-la coma, movimentos suaves, ela rebola e pedi mais, tapas vigorosos em suas nádegas e puxões de cabelo, não aguento mais, começo a penetrar mais forte até retirar de dentro dela meu membro e jorrar o líquido seminal em seu rosto, abro os olhos, ela não voltou mais, continuo a ler o romance, um cheiro de pipoca me excita, a fome me contagia, tenho que comer algo, mas levantar do banco é uma...Levanto.
Ando timidamente por entre árvores, garotos com espinha, mulheres de vestidos, homens a contemplarem a beleza feminina, jovens com o futuro preso na garganta, minha pipoca não cheira tanto, gosto do sabor de sal que tem nela, meus passos lentos sincronizados com mastigadas lentas, a vida passa tão rápido e eu ando tão lento, se caísse um meteoro agora e matasse a todos nós nesse parque o mundo continuaria o mesmo, ele continuará o mesmo depois que nos formos, como mais um pouco de pipoca, de repente esbarro em uma bolinha de sabão, ela explode em meu rosto, me assusto, crianças sorriem, na verdade ouço gargalhadas gostosas, paro e contemplo bolas mágicas subindo, elas têm vida curta, assim como nós, mas brilham intensamente enquanto sobem dançando no ar com a luz que vem do astro rei. Compro um brinquedo parecido com daquelas crianças do parque, agora sopro da janela de minha casa e vejo as bolinhas de sabão deslizarem pelo ar e sumirem, um dia meu brilho sumirá como a da bolinha e eu deixarei de brilhar, sopro mais uma vez, no parque parecia ser mais emocionante.