As ruinas da minha memória
sobrevivem pelos tempos que roem a carnes do mundo, que roem os templos da
mente, somos devorados pela passar do tempo, pelo passado persistente que passa
pela gente e deixa um gosto nu, um cheiro de ruina, de esquina, um cheiro de
rua. Escrevo sobre o ruir do mundo, escrevo sobre o pensar o mundo, no mundo
invento o mundo, o mundo inventando existe sem minha invenção, eu existo sem a
ruina que desmorona em meu coração, eu não vivo sem o mundo, o mundo sem mim existe
sem minha vida, sem meu olhar que contempla o passar do tempo que passa
persistente e persiste em passar até o fim do mundo que nunca caba antes de
começar tudo de novo.
Escrevo dentro dessa esfera
decadente, desse mundo que nunca fica doente, mesmo as ruinas indicando sua
velhice, sua sandice, seu passar sem pesar, o mundo fica cada dia mais velho,
fico a cada dia que passa mais velho dentro do mundo, fora de mim há um mundo
velho, dentro de mim a um ser velho, entre eu e o mundo há um passar ligeiro de
tempo, um velho roer de roupa, de carne, um rato devorando tudo que existe, as
lembranças são trapos que se prendem no corpo de um homem ruindo, que não
consegue ser imortal.
Olho para o céu azul, grito para
ele, o lobo fala fleumático que o caos reina, o eco de minha voz corre doida
pelo azul celeste, o mundo não responde minhas preces, o Deus que se esconde
entre plumas de mil megatons também não, estão todos sendo ruídos pela chuva
ácida que derrete todos os sonhos, que dilacera todas as almas, que devora todo
gozar, masturbações metafísicas.
O carro percorre as ruas na
noite, o calor teima em beijar nossos corpos nesse manto noturno, prostitutas a
esperar em ruas desertas, bares lotados, viciados a andar, zumbis que amedrontam
todo sonhar, paro e compro uma cerveja, a morena de roupa rosa parece sorrir
para o homem de rosto sombrio, ouço ela falar algo sobre cinema, ele apenas
bebe esquizofrenicamente sua bebida, continuo minha odisseia pelas ruas, como
somos ansiosos, queremos viver tudo de uma vez, ficamos ousados e queremos
mergulhar rapidamente no mar da vida e nos esquecemos que a água seca
rapidamente, logo seremos apenas poeira nas lembranças, ruinas na memórias,
seremos apagados, ceifados pela foice do acaso, para que tanta pressa em viver,
o mundo está ruindo, a carne está ruindo, somos ruinas ambulante, já envelhecemos
no momento que nascemos, para que tanta ânsia?
O rato roeu a roupa do rei de
Roma, o abismo chegou de repente, a alma que brinca com a gente, como sonhar em
mundo racionalista? Como não pensar em algo além da razão, somos mais emoção
que tesão, somos mais emoção que Descartes, somos todos tragados pela fumaça
desgraça que desce do alto das montanhas sagradas, corro com meu carro, o
velocímetro chega a indicar que estou prestes a voar, para o carro novamente,
me lembro de minha infância, presto atenção da música de Milton Nascimento,
CAIS, invento um cais...Invento um mundo onde possa morar, o mundo inventa um
ser que possa sonhar, a vida é inventada para ser desinventada com a invenção
morte, que rói tudo , que destrói toda ruina que sobrevive enquanto lembranças nas
ruas, nas bocas, no tempo.