segunda-feira, 24 de outubro de 2011

COMO UM DEUS SOLITÁRIO.

Enquanto fazia a barba seus pensamentos se deslocavam para o além, imaginava o espaço sem luz, sem estrelas, sem nada, apenas um ser sem matéria vagando na escuridão, mergulhado na eternidade, perdido na imensidão. Os fios ruivos caiam na pia, sua pele agora branca e sem pelos, a imagem e semelhança do fantasma que vagava solitário pela escuridão, sim, apenas esse deus judeu e cristão já foi tão solitário quanto esse homem que agora ordinariamente faz sua barba ruiva.
A comida esfriava sobre a mesa, sua fome estava em algum lugar do passado, perdida junto com o mundo primitivo de igualdade utópica pregada pelos socialistas, sua coragem de viver era proporcional ao seu apetite, indiferente com a vida essa criatura de deus pensava na cor da toalha pendurada no banheiro, ele não refletia sobre o que estava a sua frente, sobre o futuro, ele apenas usava desculpas para não pensar em si mesmo. Agora sem barba, sem apetite e sem otimismo esse ser solitário como um fantasma , como um deus, irá colocar seu corpo sobre uma cama e curtirá sua insônia com toda a alegria do mundo.
O sol ilumina o mundo com seus raios, metáfora de sabedoria esse astro rei enche nosso lindo planeta com um calor infernal, enquanto trabalhadores soam em sua labuta cotidiana Carlos, agora sem barba, soa seu corpo em uma tarde de luxúria. Gemidos, tapas, mordidas, enquanto puxa os cabelos negros de Daiana e lhe dá palmadas em sua linda bunda ele pensa como é estranho viver em um mundo como esse, suor, suspiros, danação, ele goza com jatos quentes no rosto da garota de programa, sim, ele é medíocre de mais para ter uma namorada ou uma amante, ele paga pelos serviços da moça com seios fartos e cabelos longos.
Jornal, noite novamente, mais um jantar chato, mais comida que sobra no prato, notícias chatas, mais violência, o mundo sempre foi violento, sempre ouve guerras, estupros, sempre ouve alguma coisa, Carlos acha que sempre foi assim, ele não se anima facilmente, nada pode chocar esse homem.
Mais um dia, trabalho, estudos, agitação, crianças no parque, adolescentes apaixonados, pessoas estressadas, disputas eleitorais, axiomas, epistemologias e filosofias baratas, o mundo gira, mas Carlos não vê com bons olhos mais um dia rumo a morte.
Deus já sabia tudo que iria acontecer, com a sua onisciência ele já sabia do nazismo, das guerras, fomes, mentiras, já sabia que um dia Carlos iria existir e iria passar pelo mundo despercebido, ele é sacana, por isso Carlos negava que esse ser sobrenatural existia.
O espelho a sua frente, ele se masturba, enquanto sente o prazer mundano seus olhos sentem o terror da solidão, eles fitam um homem sem barba, sem emoção, sem amigos, sem rumo, enquanto Carlos goza lágrimas descem pelo seu rosto, ele se entristece, mas sabe que nascemos e morremos sozinhos.

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