A estrada, no horizonte não se vê o fim, na verdade ele não existe, todos os fins são provisórios, são apenas desculpas estéticas e pedagógicas, orgasmos de um final de transa, mas sempre transamos de novo e temos novos fins. A estrada continua com seus veículos, almas e corações, ela continua como um tapete mágico que nos leva para outros lugares, na estrada continua a viagem, o delírio, continua a percorrer um carro branco com três homens sem razão, mas com um destino, provisório, como os finais de filmes. Mais risadas, a viagem continua, a trabalho, mas mesmo assim uma viagem.
Formigas andam com sua velocidade contemplativa, o pé de goiaba está ali, ele não fala, não mente, ele apenas sente sem ter consciência disso, eu tenho consciência de tudo isso, mas isso não quer dizer que tenho controle, pelo contrário, tenho apenas consciência da caoticidade. A viagem é interrompida, chegamos ao final provisório, a cidade destino, lá fito com ansiedade as formigas em uma árvore, como do seu fruto e ouço o diálogo de meu colega de equipe com um condenado, um preso, uma alma enjaulada. O sol brilha no céu, minha dúvidas brilham em minha mente, a liberdade é carente, mesmo aquele preso é livre, tem dúvidas, desejos, mesmo aquele desgraçado tem poder sobre o seu destino, poder de fazer coisas limitas, poder de se mexer dentro da pequena caixa de possibilidades, no fim reina a liberdade, mesmo que seja apenas um sonho, apenas uma vontade, apenas a possibilidade de morrer.
A estrada, a volta, comida caseira, mais risadas descomprometidas, conversas sobre futebol, mulheres, sexo, conversas sobre cinema, tudo é contagiante, tudo se move como lesmas florescentes em nossa imaginação. O inferno queima em meu peito, os anjos tocam suas trombetas, mais um final provisório está chegando, essa banal e corriqueira viagem é mais um dia de minha vida, é mais um passo para o final definitivo dessa história sem narrativa chamada vida.