A
violência contra a mulher é uma constante em nossa sociedade, e ela não é
a-histórica. Antes da propriedade privada e do surgimento das classes sociais
não podemos falar de uma violência, de uma relação social violenta contra a
mulher. Após o surgimento da desigualdade social, temos também a desigualdade
entre os sexos, com a opressão da mulher- sendo ela reprimida na vida pública e
coagida na vida privada.
Na
sociedade classista capitalista a realidade supracitada continua, e se
intensifica com a mercantilização da vida, dos corpos; com a erotização e
desclassificação da mulher como objeto, mercadoria. Nesse diapasão temos a
violação dos corpos femininos que são vistos como propriedades por pais,
maridos; como objetos por homens de forma geral.
Na
luta feminina contra essa violência tivemos avanços, como criação de delegacias
especializadas- DEAM’s a partir de 1985, legislações com a Lei Maria da Penha
em 2006 e de Feminicídio em 2015. Entretanto sabemos que somente isso não
resolve o problema.
A
prisão não consegue diminuir o número de crimes de forma geral, e muito menos
de violência contra a mulher.
A
luta contra a violência doméstica passa por mudanças na ideologia sexista,
através de uma luta cultural e da educação; de mudanças nas relações sociais de
trabalho que desqualifica e exclui a mulher.
Não
lograremos êxito com prisões se não tivermos acompanhamento dos homens
agressores com psicólogos, monitoramento e trabalho educativo após a saída da
prisão. Não temos uma ressocialização adequada com palestras, cursos e
atividades desses homens envolvendo a questão feminina.
Apenas
encarcerar e soltar pessoas estigmatizadas, e sem mudanças na totalidade social,
será como assoprar para apagar fogo de um fósforo dentro de um prédio em
chamas.
A
chamada teoria de gênero tem suas limitações, pois coloca a situação apenas no
plano “cultural”, nos papéis sociais dentro e uma cultura dita “machista”; mas
acaba sendo mais uma ideologia que obnubila as relações de classe, a opressão
da mulher e seu caráter histórico.
Enquanto
nos limitarmos a encarcerar e tentar mudar mentalidades a nível “cultural”, sem
trabalharmos a totalidade social; e sem repensarmos a acompanhamento dos
infratores fora das prisões, estaremos dando continuidade ao aumento da
violência sexista contra a mulher.
[Publicado originalmente no jornal Diário da Manhã no dia 08 de janeiro de 2021.]