Essa
poesia cinza que sai das bocas fumegantes, cuspidoras de poluentes, indecentes
partículas esfumaçadas de progresso, de lucros, de cancerígenos que matam
pulmões, porém, fazem viver contas bancárias. Essa poesia é linda e cadavérica,
o futuro é brilhantemente infortúnio, desgraças em forma mercadológica que
reina na lógica irracional das calculadoras sem coração, sem tesão, mas cheias
de indústrias.
A
poesia é romântica, amor que sai das bocas ingênuas e burguesas, sonoramente encantadora;
arrasa a dor, o odor é ameno, o suor incendeia as narinas, não tem romantismo a
labuta de baixa renda, as rendas das calcinhas são mais bonitas.
Beleza
que dói nos olhos com a luz incandescente, poesia solar que lambe as epidermes
alvas nas manhãs românticas e queima as peles proletárias nas tardes infernais
em busca de alimentos. Como é poético carregar o mundo nas costas, como é agradabilíssimo
obnubilar os subterfúgios sub-reptícios dos patrícios nessa era sem gelo,
apenas o sol pode nos salvar com câncer e morte ligeira.
A
vida é pura poesia, ideias puras, lógica que transcende as condicionantes, as estruturas,
essas correntes nuas, sem adornos, sem descrições fúteis e pomposas como as palavras
ditas no escuro.
Os
cifrões são mais importantes do que os corações, eis a verdade transgressora e
opressora que chega poeticamente e sem verdades estridentes, apenas os belos e
rebuscados versos encantam esse mundo; o capital é tão belo quanto o eterno, o
pleno e verdadeiro sol platônico que nos cega fora da caverna; mas não seria uma
caverna luminosa essa onde a verdade burguesa nos ludibria com firulas,
verborragias, publicidades?
A
poesia avermelhada que some no horizonte com o final da tarde traz melancolia,
traz a letargia sonífera que nos fazem sonhar, embala beijos verbais, obstaculiza
revoluções; somos tão conservadores quando apelamos apenas às formas, os
conteúdos nem sempre são tão poéticos.