O
ódio nos leva para o lado negro da força, eis o que eu aprendi com o piegas,
comercial e hollywoodiano Star Wars,
saga infanto juvenil cheia de moralismo burguês e que bebe nas águas da cultura
japonesa, nas mitologias ocidentais, no cinema de ficção-científica espacial,
nos westerns e etc. O que vale é a reflexão sobre o ódio, sobre essa paixão
avassaladora, destruidora que sai do campo da simples oposição, da raiva e transcende
para algo maior, mais forte e mais problemático. O ódio nos cega, como animais
sem visão saímos atropelando tudo e machucamos o que nos vem a frente, o que
nos tortura por dentro, o que aflora nos poros e sangra na alma.
Enquanto escrevo ouço Gustav
Mahler - Adagietto from Symphony no. 5, me lembro do final de uma novela; sim,
uma novela, nessa obra de arte popular, e feita para as massas, um pai que
sofreu uma espécie de “derrame” caminha com seu filho homossexual e anti-herói para
uma praia; o pôr do sol é embalado pela música citada acima, são as cenas
finais, o melodrama é enfático e explícito, há diálogos bem escritos, apesar de
melosos, há o perdão de um pai rancoroso e autoritário, porém moribundo, a seu
filho. Mas aqui é uma relação familiar, é fácil se identificar, mas quando extrapolamos
o familiar, o nosso grupo social, quando falamos daqueles que já foram
reduzidos ao rótulo de “inimigos”?
No Brasil vivemos tempo difíceis,
a política se polarizou entre grupos de ódios, não são apenas grupos de debates
ideológicos, programáticos, revolucionários ou liberais, são grupos que se
atacam, sejam nas redes sociais, em passeatas; há uma guerra fria no trabalho,
na mídia, e uma guerra quente nas ruas. Dentro desse contexto temos o ódio a
determinados partidos, como é o caso ao PT, que sozinho foi eleito o partido do
mal, do apocalipse, o novo NAZISMO. Para além das colorações e paixões
políticos temos os ataques pessoais, pois os seres humanos são criminalizados
por serem partidários ou simpatizantes de determinadas ideias, partidos ou
grupos. É nessa arena belicosa, sob a égide do irracional, mergulhado no
liquido do apenas passional que vemos os atuais e mórbidos ataques relacionados
à morte da mulher de Lula, de Marisa Letícia, ou Dona Marisa como é conhecida popularmente.
O que leva pessoas a apedrejarem simbolicamente
o cadáver de uma mulher, ferir o luto de uma pessoa, mesmo que essa pessoa
tenha cometido deslizes e atos ilegais? Me lembro da morte da mulher de
Fernando Henrique Cardoso, outro líder que tinha desafetos, tinha relação com corrupção,
ilegalidades e, como Lula, tinha, e tem, discípulos, adoradores e
simpatizantes. Não vi na ocasião da morte de Ruth tamanha guerra moral,
política e baixa com ataques, piadas mórbidas como vejo agora com a mulher de
Lula.
Temos que ter maturidade para
ficarmos no plano das ideias, do debate e da oposição sem rancor, pois do contrário
seremos escravos de nossas paixões ao invés de através de nossos desejos
guiarmos nossa razão rumo a liberdade. Vamos deixar o criminal no plano
jurídico, o político e ideológico nas lutas democráticas e no diálogo. Nossa
vontade de potência tem que servir para a emancipação coletiva e não para
destruição do indivíduo. A luta com ódio e rancor é para fracos e seres
rastejantes, os fortes lutam com amor e libido, lutam pelo prazer da igualdade,
pelo tesão da vida.