sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A MORTE DE MARISA LETÍCIA, O ÓDIO MÓRBIDO E O FIM DO TESÃO PELA VIDA



O ódio nos leva para o lado negro da força, eis o que eu aprendi com o piegas, comercial e hollywoodiano Star Wars, saga infanto juvenil cheia de moralismo burguês e que bebe nas águas da cultura japonesa, nas mitologias ocidentais, no cinema de ficção-científica espacial, nos westerns e etc. O que vale é a reflexão sobre o ódio, sobre essa paixão avassaladora, destruidora que sai do campo da simples oposição, da raiva e transcende para algo maior, mais forte e mais problemático. O ódio nos cega, como animais sem visão saímos atropelando tudo e machucamos o que nos vem a frente, o que nos tortura por dentro, o que aflora nos poros e sangra na alma.

Enquanto escrevo ouço Gustav Mahler - Adagietto from Symphony no. 5, me lembro do final de uma novela; sim, uma novela, nessa obra de arte popular, e feita para as massas, um pai que sofreu uma espécie de “derrame” caminha com seu filho homossexual e anti-herói para uma praia; o pôr do sol é embalado pela música citada acima, são as cenas finais, o melodrama é enfático e explícito, há diálogos bem escritos, apesar de melosos, há o perdão de um pai rancoroso e autoritário, porém moribundo, a seu filho. Mas aqui é uma relação familiar, é fácil se identificar, mas quando extrapolamos o familiar, o nosso grupo social, quando falamos daqueles que já foram reduzidos ao rótulo de “inimigos”?

No Brasil vivemos tempo difíceis, a política se polarizou entre grupos de ódios, não são apenas grupos de debates ideológicos, programáticos, revolucionários ou liberais, são grupos que se atacam, sejam nas redes sociais, em passeatas; há uma guerra fria no trabalho, na mídia, e uma guerra quente nas ruas. Dentro desse contexto temos o ódio a determinados partidos, como é o caso ao PT, que sozinho foi eleito o partido do mal, do apocalipse, o novo NAZISMO. Para além das colorações e paixões políticos temos os ataques pessoais, pois os seres humanos são criminalizados por serem partidários ou simpatizantes de determinadas ideias, partidos ou grupos. É nessa arena belicosa, sob a égide do irracional, mergulhado no liquido do apenas passional que vemos os atuais e mórbidos ataques relacionados à morte da mulher de Lula, de Marisa Letícia, ou Dona Marisa como é conhecida popularmente.

O que leva pessoas a apedrejarem simbolicamente o cadáver de uma mulher, ferir o luto de uma pessoa, mesmo que essa pessoa tenha cometido deslizes e atos ilegais? Me lembro da morte da mulher de Fernando Henrique Cardoso, outro líder que tinha desafetos, tinha relação com corrupção, ilegalidades e, como Lula, tinha, e tem, discípulos, adoradores e simpatizantes. Não vi na ocasião da morte de Ruth tamanha guerra moral, política e baixa com ataques, piadas mórbidas como vejo agora com a mulher de Lula.

Temos que ter maturidade para ficarmos no plano das ideias, do debate e da oposição sem rancor, pois do contrário seremos escravos de nossas paixões ao invés de através de nossos desejos guiarmos nossa razão rumo a liberdade. Vamos deixar o criminal no plano jurídico, o político e ideológico nas lutas democráticas e no diálogo. Nossa vontade de potência tem que servir para a emancipação coletiva e não para destruição do indivíduo. A luta com ódio e rancor é para fracos e seres rastejantes, os fortes lutam com amor e libido, lutam pelo prazer da igualdade, pelo tesão da vida.