terça-feira, 27 de setembro de 2011

O VENTILADOR


O ventilador procura por algo, o vento quente queima minhas costas, o sol brilha em algum lugar lá fora, aqui dentro apenas psicodelia, anormalidade, nostalgia e um beijo de saudade. A música starman toca sem vergonha, sem documento, toca o que realmente quer, o que realmente não sabe, o vento do ventilador harmoniza seu barulho com a música, o calor destrói sonhos ainda confusos, penso que lá fora há algo a ser revelado, esclarecido, há somente o mundo, há somente enigma.
Uma odisséia espacial, uma conversa fiada com Deus, Jeová Alá e o capeta, cuspo filosofia barata, engulo problemas metafísicos, urino em cima do destino, carrego em minha loucura o calor do dia, o desabafo da noite, a angustia de pensar um sentido para tudo isso. O cheiro de mistério desce pela garganta dos que duvidam, o orgasmo, o amor, toda a contradição nasce do criador, do destruidor, desse louco existir. Falo com ele, falo com as estrelas, com o além, nada, apenas silêncio no espaço, em minha alma, apenas o absurdo ronda minha floresta noturna.
Oração, danação, o ventilador joga em minha pele o calor, a música eterna como o fim da tarde joga em meus ouvidos lembranças, penso o que serei e vejo minha carne apodrecendo, minha voz silenciando, meu ser se perdendo.

sábado, 10 de setembro de 2011

SEM DESTINO OUTRA VEZ E NO MESMO LUGAR.


Com canetas de aço os deuses escrevem os destinos humanos na carne da Terra, com sorrisos desconfortantes eles gozam seu líquido sobre os sonhos distantes, seu tesão eterno percorre o infinito, seu amor explode como uma bomba atômica em mil megatons. Corro, as canetas rasgam a carne, tiram sangue do planeta, meu destino é traçado com tom vermelho, morte, ácido, dor e amor, tudo lacrado, espalhado, tudo reduzido ao pó que cobre a estrada, poesia sem reflexão, doença do coração, o mundo caminha sendo corrigido pela falha demoníaca, pelo desejo divino.
O destino está traçado por forças do além, assim acreditam as crianças idosas, racionais e amorosas, assim desacreditam pessoas que rompem com a tradição, deixam de ter fé em histórias absurdas, único absurdo a ter minha concordância é a falta de sentido da vida, é o doloroso abraço de partido.
Escadas, subo até acima das nuvens, em baixo tudo calmo, mesmo o caos é contemplativo, mesmo a raiva e a vingança caminham vagarosamente fitando o horizonte, sem destino, sem deus, apenas o inconsciente, o amor, sem romantismo, apenas o nada como final da reta, como louco lugar de chegada, apenas palavras em um fim de tarde, lá de cima sou um anjo que cospe palavrões, que grita estrondosamente silêncios e clarões, sou o déspota, hermeneuta sem pontuação, sou tudo, sou nada, sou quase alguma coisa, alguma coisa quase é nada. Escadas, elas param em um lugar indeterminado, chego lá, vejo o infinito, estou cego com tanta coisa, com tanta paisagem, mas nada diz a verdade, a origem, o final, somente desenvolvimento, a vida é isso, apenas caminhada, “apenas” é uma palavra sem vergonha, sou apenas palavra.
O telefone toca, não atendo, prefiro tocar eroticamente as teclas do computador, sentir o orgasmo de escrever, beber do frescor da literatura, ferver com o calor de ser humano, calor que percorre o momento que escrevo, já que estou pensando na cidade que abandonei e que retornarei, o retorno sem aconchego, sem orgulho ou preconceito, aceito o final da peça, grito gregamente pela tragédia, pela comédia, o drama de existir é uma desculpa onde apenas a morte dá sentido a trama.
Estou perdido, sem destino, sem deus, sem posição política, me acho e agarro esse momento único, esse louco e ímpar existir, não choro, não guardo o rancor pelas perdas, jogo fora toda a magia, toda simpatia pelo eterno, beijo com excitação a vida e deixo que ela sugue toda a energia que emana de meus desejos, mesmo estando indo paro o núcleo da terra, para dentro do vulcão peço aos meus pensamentos mais paciência, mais eficiência, menos razão.
Não tem nada escrito, nada dito, nada no cosmo que me leve a ficar tranqüilo, mas tranqüilizo meu ser com a certeza de nada estar certo, de nada se perder no cosmo, no copo vazio, vazio que explodi com a lógica de meus sonhos, de meus presentes passados em futuros ainda lembrados, ainda não provados.
Estou indo de volta para o mesmo lugar, isso é um fim como o de novela, sem graça, mas esperado com ansiedade.