Com canetas de aço os deuses
escrevem os destinos humanos na carne da Terra, com sorrisos desconfortantes
eles gozam seu líquido sobre os sonhos distantes, seu tesão eterno percorre o
infinito, seu amor explode como uma bomba atômica em mil megatons. Corro, as
canetas rasgam a carne, tiram sangue do planeta, meu destino é traçado com tom
vermelho, morte, ácido, dor e amor, tudo lacrado, espalhado, tudo reduzido ao
pó que cobre a estrada, poesia sem reflexão, doença do coração, o mundo caminha
sendo corrigido pela falha demoníaca, pelo desejo divino.
O destino está traçado por
forças do além, assim acreditam as crianças idosas, racionais e amorosas, assim
desacreditam pessoas que rompem com a tradição, deixam de ter fé em histórias
absurdas, único absurdo a ter minha concordância é a falta de sentido da vida,
é o doloroso abraço de partido.
Escadas, subo até acima das
nuvens, em baixo tudo calmo, mesmo o caos é contemplativo, mesmo a raiva e a
vingança caminham vagarosamente fitando o horizonte, sem destino, sem deus,
apenas o inconsciente, o amor, sem romantismo, apenas o nada como final da
reta, como louco lugar de chegada, apenas palavras em um fim de tarde, lá de
cima sou um anjo que cospe palavrões, que grita estrondosamente silêncios e
clarões, sou o déspota, hermeneuta sem pontuação, sou tudo, sou nada, sou quase
alguma coisa, alguma coisa quase é nada. Escadas, elas param em um lugar
indeterminado, chego lá, vejo o infinito, estou cego com tanta coisa, com tanta
paisagem, mas nada diz a verdade, a origem, o final, somente desenvolvimento, a
vida é isso, apenas caminhada, “apenas” é uma palavra sem vergonha, sou apenas
palavra.
O telefone toca, não atendo,
prefiro tocar eroticamente as teclas do computador, sentir o orgasmo de
escrever, beber do frescor da literatura, ferver com o calor de ser humano,
calor que percorre o momento que escrevo, já que estou pensando na cidade que
abandonei e que retornarei, o retorno sem aconchego, sem orgulho ou
preconceito, aceito o final da peça, grito gregamente pela tragédia, pela
comédia, o drama de existir é uma desculpa onde apenas a morte dá sentido a
trama.
Estou perdido, sem destino,
sem deus, sem posição política, me acho e agarro esse momento único, esse louco
e ímpar existir, não choro, não guardo o rancor pelas perdas, jogo fora toda a
magia, toda simpatia pelo eterno, beijo com excitação a vida e deixo que ela
sugue toda a energia que emana de meus desejos, mesmo estando indo paro o
núcleo da terra, para dentro do vulcão peço aos meus pensamentos mais paciência,
mais eficiência, menos razão.
Não tem nada escrito, nada
dito, nada no cosmo que me leve a ficar tranqüilo, mas tranqüilizo meu ser com
a certeza de nada estar certo, de nada se perder no cosmo, no copo vazio, vazio
que explodi com a lógica de meus sonhos, de meus presentes passados em futuros
ainda lembrados, ainda não provados.
Estou indo de volta para o
mesmo lugar, isso é um fim como o de novela, sem graça, mas esperado com
ansiedade.